A freguesia da Coriscada, Mêda, pode ter sido no passado longínquo um aldeamento romano. Assim o indiciam os resultados das recentes escavações efectuadas num olival próximo daquela localidade que revelaram aquilo que poderá ter sido um balneário e também vestígios de uma “vicus” (aldeia), que terá alojado várias famílias romanas. António Sá Coixão, arqueólogo de Freixo de Numão e chefe de uma equipa composta na sua maioria por membros do Departamento de Arqueologia de Lyon (França), mostrou-se bastante optimista com esta descoberta. «É muito importante, porque nesta zona Norte ainda não tinha sido descoberto nenhum balneário romano e nunca tinha sido sondada nenhuma estrutura deste tipo e dimensão no interior, sendo só possível observar-se cenário semelhante no Alentejo», sublinha.
As suspeitas de ali ter existido uma antiga aldeia romana remontam há alguns anos após ter sido descoberta uma ara (pedra de altar) dedicada a Júpiter e vários pedaços de telhas da época, «não só no local das escavações, mas também ao longo da freguesia», conta Sá Coixão. As escavações, que começaram a 18 de Agosto, só revelaram o “tesouro” já no final, quando a equipa encontrou os primeiros arcos e muros, «aí tivemos a certeza de estar perante um aldeamento romano», garantiu o arqueólogo. Quanto ao balneário, Sá Coixão explica que a estrutura não chegou a ser encontrada, mas há «fortes indícios» quanto à sua existência, pois este equipamento «só está presente em civitas (cidades) ou vicus (aldeias) romanas e, como cidade romana, temos Marialva aqui bem perto», refere, adiantando que o balneário não vai ser encontrado tão depressa porque as escavações estão paradas. No entanto, os arqueólogos ainda encontraram naquela zona parte das fornalhas e do aquecimento que serviria a aldeia, bem como um conjunto de achados que vieram completar estudos já realizados na zona, que indicavam a presença de povos romanos e da exploração de minérios na região.
«O volfrâmio foi explorado por aqui há 50 ou 100 anos atrás, mas no tempo dos romanos era explorado o estanho e chumbo que fazem uma liga perfeita para construções antigas como esta», indica Sá Coixão, para quem «terá sido a atracção pela exploração do estanho e de outros metais que terão levado os romanos a fixarem-se na Coriscada, já que sabemos que aqui ao lado existem vários poços de extracção mineira». A única dúvida que resta é saber a dimensão e importância destas descobertas: «É uma incógnita. Não sabemos o grau de conservação das estruturas, porque geralmente as povoações romanas estão sob terrenos agrícolas, este é um olival bastante extenso, mas à volta existe mato e ainda não sabemos se aí existe alguma coisa», diz. Contudo, o arqueólogo considera ser esta uma possibilidade «bastante grande», embora ressalve que é sempre imprevisível saber o que irá ser encontrado.
Elisabete Silva