A estrutura de metal, betão e tijolo existente nos Piornos, junto ao Centro de Limpeza de Neve, e que outrora deveria servir como estação do teleférico de ligação até à Torre, vai manter-se desta forma por mais algum tempo, apesar de já existir um projecto para requalificar a zona e o próprio edifício com equipamentos de restauração e comércio com vista panorâmica. É que esta obra «não é tão importante para já», explica Artur Costa Pais, presidente da Turistrela, empresa concessionária do turismo na Serra da Estrela.
«A Turistrela tem outras prioridades», justifica Costa Pais, destacando os projectos de requalificação da estância de esqui e dos hotéis da Serra da Estrela, da futura aldeia de montanha e das antigas oficinas da Força Área na Torre, bem como o investimento em novos projectos, «essenciais» para desenvolver o turismo à volta do maciço central. Aqui, incluem-se uma «nova unidade hoteleira em Manteigas e um projecto turístico com equipamentos de alojamento e animação junto ao Sanatório», refere Costa Pais. «Entendemos que estas prioridades, na perspectiva da Serra da Estrela, são mais importantes», defende, sendo por isso «mais oportuno requalificar a estância de esqui para criar massa turística, do que criar investimentos pouco oportunos», sustenta. A transformação da antiga estação do teleférico de Piornos, que começou a ser construída em finais dos anos 50 para fazer a ligação até à Torre ( sem nunca ter sido terminada), não é para a Turistrela «uma opção estratégica» para já, embora o empresário admita que assim que estiver reparada irá possibilitar aos turistas um local de descanso e de lazer. «É um local lindíssimo na Serra da Estrela para fazer fotografias», garante.
Imperativo nacional em 1969
Mas o turismo faz-se «com ofertas», adverte. A partir do momento em que «falta fazer duas mil camas na Serra, que ainda só tem 400», Costa Pais considera ser essencial apostar no aumento da capacidade hoteleira, mesmo que seja construída junto de um edifício [o Sanatório] que vai possuir, entre outras estruturas desportivas e de lazer, 56 quartos (35 dos quais são duplos), cinco quartos familiares, 16 suites e uma suite presidencial. As estruturas rodoviárias são outra preocupação da Turistrela. Por isso, a empresa encontra-se a preparar o ante-projecto de um «sistema de transporte até à Torre por telecadeira», tal como existe no Parque das Nações, em Lisboa, para apresentar «dentro de meses» ao Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). De acordo com Artur Costa Pais, a telecadeira irá transportar as pessoas desde Alvoco da Serra até à Torre e daqui para a Lagoa Comprida. Trata-se, então, de uma «alternativa» de transporte válida e que poderá levar a que os turistas «se desprendam dos carros e desfrutem de um transporte muito mais aprazível e com mais segurança» até ao ponto mais alto de Portugal, explica. Opinião também partilhada por Fernando Matos, director do PNSE, pois quando a estação do teleférico de Piornos estiver recuperada, será uma «óptima» área de apoio aos visitantes. «É que, por vezes, a estrada apenas está limpa até ali», assegura, acreditando que esse será um local de paragem e de acesso à Serra de que a maioria dos turistas irá desfrutar.
O projecto, da autoria do engenheiro austríaco Helmut Senn, (especialista na matéria), foi até considerado por Marcello Caetano em 1969, como um «imperativo nacional e condição imprescindível do desenvolvimento da Região de Turismo da Serra da Estrela». Mas a abertura da estrada entre as Penhas da Saúde e a Torre acabaram por inviabilizar o investimento, que sem capacidade financeira e depois de longas interrupções, que se prolongaram pelo menos até 1978, acabou por cair no esquecimento. O abandono a que foi sujeito há quase 40 anos levou à degradação da estrutura, tendo servido para tudo e mais alguma coisa, como dormitório de pastores, abrigo de gado e até para o vandalismo. Em 1995, foi decretada a demolição da estação nas Penhas da Saúde, o que se veio a concretizar em 1998 aquando da visita do então Primeiro Ministro, António Guterres. A requalificação da estação de Piornos ficou para mais tarde e, pelos vistos, assim vai continuar a médio prazo.
Liliana Correia