Um touro provocou, no sábado, momentos de pânico na vila raiana do Soito. Decorria há poucos minutos o festival “Ó forcão rapazes”, quando um dos bovinos da ganadaria “Zé Noi” saltou para fora da arena, obrigando os cerca de 250 participantes no evento a fugirem da trincheira, zona habitualmente reservada a toureiros e forcados.
O animal – com cerca de 600 quilos – ainda deu duas voltas ao recinto, lançando a confusão e atingindo mesmo quatro pessoas, mas sem gravidade.
«Isto pode acontecer. A praça está preparada para fazer este tipo de evento, os touros é que nem sempre são iguais», refere uns dos elementos da organização. O presidente da Junta de Freguesia de Alfaiates refere que «o animal mais pesado que lá estava acabou por conseguir saltar a trincheira, mas não prejudicou em nada o espectáculo, que continuou a decorrer normalmente». Francisco Baltazar desvaloriza o sucedido e explica que os quatro elementos «aleijaram-se mais uns com os outros no meio da confusão, que propriamente com o touro, que não tocou em ninguém, tanto que foram pegar no forcão a seguir». O responsável diz mesmo que «desde que não haja feridos graves, a adrenalina até sobe mais um bocado».
Sustos à parte, a praça de touros do Soito acolheu no sábado, a 25ª edição do denominado “Campeonato do mundo do forcão”, este ano organizada pela Lageosa e pela Aldeia da Ponte. Num recinto “a rebentar pelas costuras”, nove equipas de aldeias do concelho do Sabugal – Alfaiates, Aldeia da Ponte, Aldeia do Bispo, Aldeia Velha, Fóios, Forcalhos, Lageosa, Ozendo e Soito – fizeram-se representar e lidaram nove touros da ganadaria de Zé Noi. Com a ajuda do tradicional forcão, as equipas tinham entre 12 a 15 minutos para mostrar os seus dotes na arena, num festival onde não houve lugar a vencidos ou vencedores. Francisco Baltasar faz um balanço «muito positivo» da iniciativa, apesar de considerar que a praça de touros do Soito «não está preparada para levar tanta gente», já que foram vendidos cerca de três mil bilhetes e terão ficado de fora «cerca de 500 pessoas», afiança. «É pena que a praça não tenha capacidade para mais lugares, porque neste tipo de eventos é sempre “casa cheia”», diz o elemento da organização.
A confraternização e o convívio entre as aldeias da raia foi mesmo a tónica dominante na tarde de sábado. José Lourenço, da equipa da Aldeia Velha, considera que durante esta festa «têm que se esquecer os conflitos que possam existir entre qualquer aldeia. Acima de tudo tem que haver união», até porque «isto é só nosso, temos que o mostrar a quem vem de fora para ver», diz. A ideia é partilhada por Rui Rocha, da equipa da Aldeia da Ponte, que explica que «todos se conhecem» e o evento não é mais que «um convívio» entre todos. «Cada um faz a sua faena e no final estamos todos juntos. É um dia lindo na raia», refere o jovem.
Para os “homens do forcão”, o respeito pelo animal é regra, num momento único da tradição raiana. Quanto à sensação de estar perante um animal com cerca de 600 quilos, José Lourenço refere que se trata de «uma tradição única, que só nós é que a vivemos e que passa de geração para geração. É uma sensação única, que só quem lá está é que consegue explicar. Enquanto o touro não sai são muitos os nervos, que passam quando dá a primeira “pancada”», explica. Rui Rocha lembra que estando perante um animal selvagem, «perigo há sempre». Ainda assim, o homem da Aldeia da Ponte reforça a ideia de união do evento, ao referir que «o medo acaba quando se entra para a arena. Somos uma família, estamos todos unidos», assegura.
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Rafael Mangana