Introduzir cerca de 150 mil cabras no espaço territorial transfronteiriço como contributo ao desenvolvimento das economias locais e, também, como forma de obstar ao aparecimento de fogos florestais. São estes os grandes objectivos do projecto “Self Prevention: Modelo Auto Organizativo para a Prevenção de Incêndios Florestais”, apresentado na última terça-feira na Guarda pelo Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) Duero-Douro.
Este projecto, cujo investimento inicial ronda os 49 milhões de euros, e deve estar no terreno no próximo ano, constitui-se como um método natural para a limpeza das florestas e dos campos, projectando um modelo que garante a sustentabilidade social, económica e ambiental. O projecto irá implantar-se num território fronteiriço, num total de 9 mil quilómetros quadrados, com 125 mil habitantes, e envolverá 187 entidades públicas dos dois países. Após o investimento inicial, calculado em 49 milhões de euros, estima-se uma rentabilidade anual de 30 milhões de euros. A sustentabilidade económica do projecto será assegurada com a criação de uma empresa de participação pública e privada para a recuperação da cabra no território da AECT. Os agricultores que apostarem nesta iniciativa, por cada cabra que coloquem no projecto, recebem uma acção, e os proprietários de terrenos recebem três acções por hectare. Com este projecto estima-se a criação de 558 postos de trabalho especializado, até porque está prevista a criação de 12 queijarias, uma central de comercialização, dois matadouros, 15 lojas de venda de produtos, e uma plataforma logística de transporte e distribuição. De acordo com José Luís Pascual, director geral do Agrupamento, o projecto visa a prevenção de incêndios com recurso à reintrodução de 150 mil cabeças de gado caprino e o «desenvolvimento económico e rural» das zonas raianas dos distritos da Guarda e de Bragança, bem como das províncias espanholas de Zamora e Salamanca. O responsável, que apresentou o plano numa sessão realizada no Governo Civil da Guarda, indicou que a ideia é fazer com que os animais «limpem» os campos agrícolas abandonados e montes, «deixando livres de vegetação zonas de potencial perigo de incêndio».
O Governador Civil da Guarda sustentou que o projecto «não pode falhar» e que representa para nós uma «flor de esperança para a redução dos incêndios, mas também do ponto de vista social e económico para a região». Santinho Pacheco realça que as cabras «são destruidoras de mato» e que, «caso a distribuição for bem feita», «são elementos essenciais a uma boa prevenção dos fogos florestais», até porque «onde as cabras entram limpam tudo». O responsável mostra-se «convencido» de que vai haver «muita adesão», sendo esta «uma boa forma de mobilizarmos os proprietários rurais não só para darem algum interesse social às suas propriedades mas para tirarem algum proveito económico» das mesmas. «Neste momento os campos abandonados são apenas barris de pólvora para arderem Verão após Verão», reforçou, salientando que «os proprietários não perdem a propriedade», apenas «disponibilizam os terrenos que têm e que neste momento não aproveitam para nada».
Já o Governador Civil de Bragança, Jorge Gomes, frisou que o “Self Prevention” é um projecto «com objectivos nobres que podem ajudar-nos neste flagelo dos incêndios». Defendeu também que «convinha que conseguíssemos levar a carta a Garcia e que os objectivos fossem alcançados para acabar com o flagelo dos fogos». Pelo lado espanhol, o sub-delegado do Governo de Espanha em Salamanca, Jesús Málaga, enalteceu dois pontos «fundamentais» no projecto: «Criar emprego e vida e fazer com que o campo tenha um bombeiro em forma de animal». Para já, do lado português, estão envolvidos os municípios de Vila Nova de Foz Côa, Figueira de Castelo Rodrigo, Almeida e Sabugal, mas Manteigas já mostrou interesse em aderir ao projecto do AECT, sendo que não é necessário estar ligado directamente à Espanha para se fazer parte do agrupamento.
Ricardo Cordeiro