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«Se não fosse o peso histórico deste evento, Trancoso seria um concelho muito menos desenvolvido»

Entrevista a António Oliveira, presidente da AENEBEIRA

P – Que expectativas tem para a Feira de São Bartolomeu 2010?

R – Partimos com as melhores expectativas para mais esta edição da Feira de São Bartolomeu. Naturalmente, não ignoramos que vivemos uma situação de alguma crise económica – bem patente na actividade das empresas -, e estamos bem cientes e conscientes disso. De qualquer forma, a procura que tivemos das empresas da região permite-nos antever que haverá por parte da oferta do tecido económico alguma expectativa positiva em relação à feira, embora todos nós estejamos convictos que vivemos uma situação de alguma dificuldade económica, e que, portanto, há alguma contenção nas despesas dos consumidores em Portugal.

P – Ao nível dos intervenientes, pode traduzir a edição deste ano em números?

R – No espaço da Feira estarão a operar 165 agentes económicos, distribuídos por 230 espaços ou stands. Desses locais de exposição, 52 são de artesanato, 82 são stands de actividades económicas, 42 lotes para exposição de maquinaria agrícola, industrial e sector automóvel, para além da área das diversões, tasquinhas típicas, restaurantes e área de espectáculos. Relativamente ao ano passado, estaremos a falar de um número muito aproximado, com um ligeiro aumento nas áreas de maquinaria agrícola, industrial e sector automóvel.

P – O que terá de novo esta edição?

R – Aquilo que pode aparecer de novo este ano depende muito da actividade e das propostas de quem expõe na Feira de São Bartolomeu. Nós vamos ter todo o espaço ocupado, com stands de artesanato, uma mostra de actividades económicas, lotes para exposição de maquinaria agrícola, industrial e do sector automóvel, a parte das diversões. Temos ainda restaurantes, tasquinhas típicas e a zona para espectáculos musicais. Aquilo que me parece que há de novo é na área das diversões, nomeadamente com uma atracção que é nova no país, sendo Trancoso um dos primeiros locais onde vai estar presente. Quanto ao resto, sobre aquilo que os expositores apresentam e as novidades que poderão trazer ao público que visita a Feira – que esperemos que sejam largas dezenas de milhares de pessoas – depende das empresas e não temos, neste momento, condições para revelar muito mais. Ainda assim, estou convicto que as expectativas de todos aqueles que vão visitar a Feira serão satisfeitas.

P – Ao nível dos espectáculos musicais, o que destaca?

R – Este ano temos um cartaz significativamente forte, que tem seis grandes espectáculos de dimensão nacional: começa no dia 13 com a actuação de José Cid, dia 14 com Deolinda, e a partir da quarta-feira seguinte teremos os Santamaria, Quim Barreiros, Xutos & Pontapés e David Fonseca. Esta é a parte mais importante do cartaz de espectáculos da Feira de São Bartolomeu 2010, e que são referências nacionais que nos permitem antever que o evento seja, por essa vertente, um sucesso. Temos sempre a preocupação de construir um cartaz para tentar satisfazer todo o tipo de públicos-alvo, ou seja, tentamos ter propostas para todos os gostos e para todas as faixas etárias.

P – Que expectativas alimenta relativamente ao número de visitantes do certame?

R – Nós apontamos sempre uma meta de cerca de 150 mil visitantes ao longo dos 10 dias em que decorre a Feira de São Bartolomeu. Naturalmente que não temos uma contabilidade perfeita desse número – uma vez que apenas controlamos as entradas à noite, no período dos espectáculos e durante oito dias -, mas é essa a nossa estimativa. Se as condições meteorológicas forem positivas, se não houver dias de chuva como já aconteceu em edições anteriores, nós contamos com cerca de 150 mil visitantes.

P – Considera que há um tipo de público específico que visita a Feira de São Bartolomeu?

R – Não. Esta feira tem um público muito heterogéneo, quer do ponto de vista das classes sociais, quer do ponto de vista etário. O tipo de pessoas que visitam a feira também está relacionado com os espectáculos que se realizam em cada um dos dias. Agora, a proveniência dos visitantes não é do concelho de Trancoso, senão nunca poderíamos ter este número de visitantes. A influência da Feira – e por questões históricas – verifica-se a Norte de Trancoso e no Vale do Mondego. Os emigrantes, que nesta altura se deslocam ao concelho, também são uma parte significativa dos visitantes da Feira de São Bartolomeu.

P – Quando a Feira de São Bartolomeu é montada, tem-se em conta o tipo de público a que ela se dirige?

R – Naturalmente que sim, e a Feira também é importante por isso. Ela foi criada em 1273, começando oito dias antes do dia de São Bartolomeu e indo até oito dias depois daquela data, 24 de Agosto. Naturalmente que quando foi criada não se pensaria na comunidade emigrante. Depois dos anos 60 veio a ocorrer que, de facto, a data de realização da Feira de São Bartolomeu coincidisse com a presença da vasta comunidade emigrante desta região, e que nesta altura se encontra de férias entre nós.

P – Que peso tem a Feira de São Bartolomeu para Trancoso?

R – A Feira de São Bartolomeu é importante em duas vertentes. Por um lado, para quem lá expõe e para quem lá desenvolve a sua actividade económica, senão não teríamos, ano após ano, uma procura significativa e que esgota todo o espaço disponível. Tivemos até que diminuir o tamanho dos lotes para servir o maior número de agentes económicos. Por outro lado, é também muito importante por todo o aspecto lúdico, com as áreas dos espectáculos e da diversão, numa altura em que está presente nos nossos concelhos uma comunidade emigrante significativa. E, claro, o comércio e a restauração de Trancoso beneficiam claramente com a realização da Feira, que se torna também um instrumento de dinamização da economia local neste período do ano.

P – Em sentido inverso, poderíamos falar numa cidade menos desenvolvida sem a Feira de São Bartolomeu?

R – Eu diria que se não fosse a forte tradição e o peso histórico que se sente em Trancoso relativamente a este evento, seguramente que este seria um concelho muito menos desenvolvido. E quando falo nesta feira, falo também, e genericamente, na tradição de feiras e mercados do concelho de Trancoso.

P – Sente que o Governo reconhece a importância devida à Feira de São Bartolomeu?

R – Eu já vi em vários documentos que, de facto, Trancoso tem uma forte tradição de feiras e mercados, que faz parte da sua caracterização. Agora, neste momento a realização de feiras não tem qualquer tipo de apoios. Temos apenas alguns apoios para a sua promoção. Relativamente à organização e toda a logística que lhe está adjacente, aí não há qualquer tipo de ajudas. Este ano, o orçamento ronda os 285 mil euros – sem IVA, dos quais 158 mil são suportados pela AENEBEIRA e 128 mil pela empresa municipal Trancoso Eventos, que trata da logística dos espectáculos musicais, com excepção dos dois últimos, assumidos por nós. Tudo tem que ser feito, com base no orçamento das entidades organizadoras – Câmara Municipal, Trancoso Eventos e AENEBEIRA, ou através das receitas geradas pela realização do próprio evento.

P – Nesse sentido, o que pensa que o Governo poderia fazer pelas empresas?

R – As empresas, principalmente as do interior – e num contexto difícil que atravessa a economia à escala global -, esperam sempre mais apoios. Agora eu imagino que os recursos não permitam, de uma forma global, prestar mais apoios. Se bem que a maneira como este QREN está formatado pensa apenas em investimentos de grandes empresas e esquece um pouco o tecido das micro, das pequenas e médias empresas, que são, de facto, o grande tecido da nossa economia e são a base da sustentação da economia local e regional. Mesmo as grandes associações empresariais ou a Associação Nacional dos Municípios Portugueses têm chamado a atenção do Governo para o tecido económico real do país real, que precisaria talvez de um QREN diferente e que lhe tivesse dedicado uma fatia de apoios que, em abono da verdade, da forma como está concebido, não aponta nesse sentido.

P – O que gostaria de dizer quando terminasse a Feira de São Bartolomeu 2010?

R – Gostaria de constatar que a Feira tinha tido muito público, que as pessoas tinham gostado do evento, e que quem lá expõe e opera estava contente com os possíveis dividendos retirados. Isso para mim seria o suficiente, dado que aquilo que nós pretendemos é satisfazer quem opera do ponto de vista económico, e satisfazer as expectativas daqueles que visitam a Feira habitualmente.

«Se não fosse o peso histórico deste evento,
        Trancoso seria um concelho muito menos desenvolvido»

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