A contagem decrescente para o fecho da Delphi já começou em São Miguel. Na freguesia mais populosa da Guarda, onde está sediada a fábrica, deitam-se contas à vida perante a tragédia social e económica que se avizinha.
Na Junta, o desânimo vai de par com alguma revolta. O presidente João Prata, também deputado pelo PSD na Assembleia da República, garante que vai pedir uma justificação à administração da Delphi. «Há uns meses, o responsável desta fábrica assegurou-me que não era previsível que fechasse porque tinha melhores instalações que Castelo Branco, mais produtividade e qualidade, além dos produtos aqui fabricados terem continuidade. Pelos vistos, a Guarda foi fintada e posta fora de jogo», lamenta. O edil considera que a freguesia vai perder «duplamente» com este encerramento, entre quem deixa de trabalhar, «penalizando o comércio local», e quem prestava serviço à multinacional, como a manutenção industrial, os transportes internacionais, o armazenamento ou a limpeza. «Vamos viver momentos ainda mais complicados, pelo que o Estado deve pedir ajuda à União Europeia para esta zona, pois o que tem sido feito é muito fraco», diz João Prata.
«Esse fundo não deve ser apenas uma medida para entregar dinheiro, mas sim na óptica de criar riqueza e estimular o empreededorismo», esclarece. O presidente da Junta considera que a empresa e o poder central devem «uma justificação» à cidade, cujos responsáveis continuam «a não conseguir acautelar o futuro». Neste caso, receia que os trabalhadores acabem por emigrar após o terminus do subsídio de desemprego. «No imediato, é preciso apoio social para as famílias que vão ser afectadas, porque há filhos a estudar e empréstimos a pagar, pelo que o Estado tem que ter uma palavra», reclama. Outra sugestão tem a ver com os bancos, que deverão ter em conta estes casos, «ajudando, nomeadamente, as pessoas a gerir a indemnização a que terão direito», exemplifica. João Prata também pede políticas activas de emprego, lamentando que, em Portugal, se prefira «ir gerindo a pobreza do que criar riqueza».
Nesse sentido, adianta não haver ainda novidades sobre a criação de um Gabinete de Inserção Profissional e de um posto de atendimento aos desempregados na sede da Junta. «Continuamos a aguardar respostas e a abertura dos concursos por parte do IEFP», diz. João Prata também quer saber o que vai ser feito das instalações da Delphi e se a multinacional «vende ou aluga». Já na terça-feira, a Junta anunciou, em comunicado,
que vai assumir, «desde já, um maior acompanhamento das situações decorrentes do anunciado encerramento da Delphi que, no total de despedimentos, irá afectar um grande número de agregados familiares residentes na freguesia».