A última quinta-feira ficou marcada pela morte de uma mulher de 30 anos em Aldeia do Bispo, vítima do incêndio que cercou aquela freguesia situada a poucos quilómetros da Guarda. Madalena Marques, habitante de Aldeia do Bispo, referiu terem sido vividas «horas e pânico» na aldeia devido ao fogo e à falta de bombeiros. Todas as casas estiveram em perigo e o lar de idosos teve que ser evacuado, relatou aquela moradora, continuando que só depois do lar ter sido desocupado «é que demos por falta dela». O pior confirmou-se minutos mais tarde: «Tentávamos apagar o fogo, por cima das casas ali no alto, quando vimos um corpo, que pelo tamanho só podia ser ela», adiantou, consternada.
Quanto às causas para esta morte, Madalena Marques põe a hipótese da funcionária do lar ter entrado em pânico e subido o monte «pensando que aí teria mais hipóteses de se salvar, só que devia ter sido atraiçoada pelo fumo, desmaiou e não se conseguiu levantar mais». Joaquim Fernandes, outro morador, viu começar um pequeno foco de incêndio «atrás de uns barrocos no cimo da serra do alto de Santa Cruz» e foi o primeiro a dar o alerta para o único café da freguesia. O problema é que, segundo contaram vários moradores a “O Interior”, «quando o alerta foi dado, as pessoas continuaram sentadas no café a verem como a situação evoluía. Quando chamaram os bombeiros já era tarde», disse um popular, visivelmente irritado com o «desinteresse» de alguns dos seus conterrâneos. Também Mónica Duarte explicou que o incêndio começou por volta das 15 horas, numa altura em que o vento soprava com tal intensidade «que as chamas se propagaram muito rapidamente, mudando de direcção até Aldeia do Bispo». Maria do Carmo Borges, presidente da Câmara da Guarda, esteve presente na aldeia e lamentou a morte da habitante: «É uma situação muito dolorosa. Perante a morte de uma pessoa, tudo o resto que estamos a ver à nossa volta não interessa, não tem valor», desabafou, deixando no ar uma suspeita por terem surgido vários focos de incêndio «quase à mesma hora»: «Não acredito que seja só uma coincidência tão grande», denunciou.
Indo de encontro ao que muitos populares revoltados disseram, Maria do Carmo confirmou ter havido «uma evidente falta de meios e de homens no combate aos incêndios», mas que quanto a isso «não podemos fazer nada». Nessa tarde, a cidade esteve cercada por vários focos de incêndio, nomeadamente no Marmeleiro, onde as chamas cercaram a aldeia durante horas, pondo casas em perigo e queimando algumas plantações e animais. Já no Rochoso a situação também foi dramática, com o fogo a entrar dentro da aldeia, queimando tudo o que encontrou pela frente, caso de plantações, palheiros e milhares de fardos de feno e alguns animais. «Não há memória de um incêndio destas proporções», disseram populares, para quem «é estranho o fogo vir sempre do mesmo lado».