A Delphi vai fechar definitivamente a sua fábrica da Guarda no final do ano. A decisão foi comunicada, na sexta-feira, aos sindicatos e aos 321 trabalhadores que restavam na unidade da Estação. A produção vai ser transferida para Castelo Branco e Polónia.
A medida caiu que nem uma bomba na empresa de cablagens, onde 601 pessoas foram despedidas desde Dezembro de 2009 por falta de encomendas. A administração tinha garantido que esta reestruturação era necessária para evitar o fecho da unidade, mas alega agora já não ser viável manter duas fábricas em actividade em Portugal. «A justificação é que era necessário fechar uma para não pôr em risco as duas empresas e a administração optou por salvar a de Castelo Branco. Há encomendas, mas são de baixo consumo e isso não chega para dar trabalho às duas fábricas», adiantou Vítor Tavares. Segundo o delegado do Sindicato das Indústrias Transformadoras e da Energia (SITE), que participou na reunião com a administração, desta vez o fim da Delphi na Guarda é «irreversível». O terceiro despedimento colectivo na fábrica no espaço de um ano está marcado para o final de Dezembro.
«O que nos foi dito é que os trabalhadores sairão todos de uma vez, mas que poderá haver excepções pontuais para quem arranje trabalho até lá. Também queremos saber se há a possibilidade de pessoas serem transferidas para Castelo Branco», declarou o sindicalista. O certo é que o futuro vai ser «muito complicado» para famílias inteiras. «Há casais que vão ficar no desemprego depois do marido ou da mulher já terem sido dispensados há alguns meses atrás. O problema é que a cidade e a região continuam sem alternativas para esta gente trabalhar e os responsáveis políticos nada fazem para criar empregos na Guarda», lamentou Vítor Tavares. Na passada sexta-feira houve novamente lágrimas e muita revolta à saída do turno da manhã. «Estávamos à espera deste desfecho, mas não para já. Tinham dito que agora era para durar após a saída dos últimos colegas, em Maio, e até fomos pressionados para trabalhar muito para isto ir para a frente e agora acabou-se. Sinto muita raiva», admitiu Fausto Monteiro, de 34 anos.
Com 14 anos de empresa, este trabalhador, solteiro, acrescentou que os dias vão ser «difíceis» daqui para a frente. «Vai ser um stress até sair, mas, infelizmente, já me estou a ver à porta do Centro de Emprego, não há volta a dar», declarou. Por sua vez, José Pinheiro, de 41 anos, deu conta de um rumor que circulou na fábrica durante essa manhã: «As pessoas começaram a dizer que a Delphi ia fechar e depois tivemos a reunião. Agora temos que lutar para sair com as mesmas indemnizações que os dispensados em Maio», disse aos jornalistas, aos quais também admitiu alguma tranquilidade face ao futuro por ser serralheiro lá fora. «É um trabalhito que me vai ajudar», acrescentou o operário, há 12 anos e meio na Delphi. A empresa fecha na segunda-feira para 15 de férias. A fábrica, que já chegou a empregar mais de 3.000 pessoas, produz actualmente cablagens para a Ferrari e a Mazerati, além de alguns produtos “after sales”, de baixo valor.
Quem reagiu de imediato à notícia foi o Governador Civil, para quem o fecho da Delphi é «um golpe muito duro» para o distrito. [Santinho Pacheco reuniu entretanto com o ministro da Economia. Ver peça ao lado]. Até lá, a Caritas Diocesana manifestou disponibilidade para apoiar os novos desempregados, tal como já fez com os primeiros dispensados. «Estamos preparados para ajudar em termos psicológicos, sociais e na procura de um novo emprego», referiu Emília Andrade, presidente da direcção.
Luis Martins