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Director do PNSE pondera solicitar envio extraordinário de militares

Situação no Parque Natural da Serra da Estrela já é considerada «catastrófica»

O director do Parque Natural da Serra da Estrela pondera solicitar à tutela, a título extraordinário, o envio de militares para vigiar os 100 mil hectares do PNSE. O objectivo é tentar evitar «que mais área possa arder» e travar uma situação que já é considerada «catastrófica». Apesar de ainda não haver dados concretos, Fernando Matos estima que terão ardido nas últimas semanas mais de seis mil hectares: «Não andaremos muito longe desse número, que representa mais do triplo da área total ardida no ano passado», garante, visivelmente apreensivo com o que está para vir. O final de Agosto e princípio de Setembro é mesmo considerado o período mais “escaldante” do parque.

As chamas voltaram a dominar a paisagem da Serra da Estrela no início desta semana devido a três incêndios de grandes proporções e muito activos em Salgueirais (Celorico da Beira), Vila Soeiro (Guarda) e Penha dos Abutre, na zona de Loriga (Seia). Os fogos lavraram algumas centenas de hectares de mato e pinhal e chegaram a ameaçar as localidades de Salgueirais e Trinta (Guarda), bem como algumas quintas junto à barragem do Caldeirão, nomeadamente a Quinta da Lameira, na Corujeira. Em Loriga, as chamas expandiram-se por uma zona de difícil acesso, mas a situação mais preocupante foi vivida por cerca de 25 bombeiros da Guarda e Manteigas e os sapadores de Fernão Joanes na encosta sobranceira à barragem ao princípio da noite de segunda-feira. O vento forte que se fez sentir na zona do Caldeirão e a rápida progressão de duas frentes muito activas cercou homens e veículos durante alguns minutos, que acabaram por salvar-se “in extremis”. Este fogo começou no Vale do Mondego, nas proximidades de Vila Soeiro, e ficou a dever-se a um incêndio num automóvel. Esta ocorrência juntou 42 bombeiros de cinco corporações, apoiados por 11 viaturas e um helicóptero, que interveio na manhã de terça-feira. Cenários dantescos que, segundo Fernando Matos, fazem perigar a reserva biogenética do Parque Natural da Serra da Estrela, por se tratarem de zonas «muito sensíveis, com espécies algumas delas endémicas», refere, alertando desde já para a situação de precaridade de muitas delas. «Neste momento ainda não se pode falar em possível extinção mas ficam mais dependentes», garante.

De resto, o director do PNSE mostra-se «extremamente» preocupado com o futuro de três núcleos «delicados» do parque em Folgosinho, Manteigas e Teixeira, que ainda não arderam e que são considerados verdadeiros “barris de pólvora”. «Por este andar, estou a ver que vai ser tudo devastado pelas chamas», receia, que já está à espera de um agravamento da situação nas próximas semanas. Por isso, exige «necessariamente» mais meios para vigiar toda a área do parque, perto de 100 mil hectares – actualmente vigiados por duas dezenas de guardas. «Vou falar com a tutela, porque acho que o PNSE tem que ser extremamente vigiado a partir desta altura», refere, apelando entretanto à intervenção de toda a gente, pois os incêndios são sobretudo um «problema de cidadania». Contudo, não tem grandes ilusões, sobretudo depois do seu pedido para que os espectadores da Volta a Portugal não fizessem fogueiras ou churrascos na Serra ter sido «alegremente» desrespeitado no último fim-de-semana. E nestas condições, quase sem “lei nem roque”, o assunto da televigilância volta à baila. «Não compreendo como pode estar parado um equipamento que se calhar era muito útil para detectar um incêndio logo no início e tornar mais fácil o seu combate», estranha Fernando Matos, para quem pode ter chegado o momento de uma alteração «rápida» da legislação em causa, por achar que este é um caso «mais que evidente» de que a tecnologia será útil para a detecção de incêndios. «Não é nosso objectivo entrar na privacidade de ninguém, mas proteger a riqueza natural da Serra da Estrela», sublinha, reiterando que o equipamento é apenas de aluguer durante a época de incêndios.

Luís Martins

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