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Os Meus Inimigos

Dizem que a categoria de um homem se mede pela qualidade dos seus inimigos e isso deixa-me muito preocupado. Os meus pais, os meus amigos e os meus professores tentaram fazer de mim um ser humano pelo menos de qualidade média, e gostaria de pensar que conseguiram, mas quando penso no miserável lote de primatas que me coube em sorte como inimigos chego a duvidar do sucesso dos seus esforços.

É que dividem entre si os mais variados defeitos, vícios, deformidades e aleijões que têm afligido a espécie humana: são feios, gordos, corruptos; dizem imbecilidades, gabam-se de coisas que envergonhariam qualquer cidadão normal, têm orgulho em praticar crimes sem ter ido para a cadeia; foram, estão, vão ou deveriam estar na cadeia; são parasitas da sociedade; vivem de expedientes, de venderem o seu balofo, mal feito e feio corpo para práticas sexuais aberrantes. Têm hábitos de higiene pessoal lamentáveis. Babam-se. Metem a unhaca na sopa. Escrevem coisas como “fiz-se”, em lugar de “fizesse”, ou “à muitos anos que…” em lugar de … Dizem, mentindo, coisas como “dou a minha sincera palavra de honra de homem”. Com minúscula. Envergonham-nos a todos e envergonham-me a mim, em particular. Gostaria de ter melhores inimigos, mas tenho de me contentar com estes. São talvez o que eu mereço, e sinto vergonha de não ter melhor. Gostaria, embora nada tenha feito por isso, de ter melhores inimigos, de ter a odiar-me pessoas como o Nelson Mandela, o Clint Eastwood ou o Leonard Cohen. Não tenho essa sorte, tenho pelo contrário a desejar o meu mal o mais feio, deprimente, lamentável lote de carne supostamente humana que já poluiu os caminhos do Senhor. O seu lugar não seria a terra, seria antes uma central de compostagem, ou então, na falta de melhor destino, uma lixeira. Ou a cadeia.

É por isso que peço que quando me avaliarem o não façam pelo critério dos inimigos. Há outras maneiras e eu não tenho culpa que a escória da espécie se tenha desagradado de mim.

Julguem-me antes pelos amigos. Tenho muitos e bons, os melhores do mundo, todos melhores do que eu e que entre todas as suas qualidades (ou o mais perdoável dos seus defeitos) têm uma, a mais misericordiosa de todas, que é a de estarem sempre do meu lado. Por isso obrigado a todos: Pedro, João Paulo, Fernando (todos os Fernandos), Mário, Luís (Luíses), Carlos, Vasco, José (ou Josés), António (Antónios), Manuel, João, Rafael, Jaime, Gabriel e os outros, e outras, todos eles muito mais valiosos, necessários à sociedade, inteligentes, bonitos, honestos, talentosos, trabalhadores, do que qualquer um dos meus inimigos. Ou todos eles juntos.

Por: António Ferreira

Comentários dos nossos leitores
Pedra Silva jopsilva@iol.pt
Comentário:
cada um tem o amigo que merece, também tem amigos larápios em bandarra
 

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