O sino está a tocar a rebate em Vila Franca das Naves, no concelho de Trancoso, para evitar o fim do Agrupamento Escolar local. A decisão consta de um despacho do secretário de Estado da Educação e vai vigorar a partir do próximo ano lectivo. Será o fim da autonomia da escola vilafranquense, que ficará integrada no Agrupamento de Trancoso, mas a população promete não baixar os braços e está a mobilizar-se para impedir este desfecho.
«Ninguém percebe esta decisão, pois temos uma escola cinco estrelas, com óptimos resultados e que foi considerada das melhores do distrito», refere Ana Lourenço. Esta encarregada de educação garante que a medida não vai contribuir para melhorar o ensino, antes pelo contrário: «Quem decidiu não conhece o impacto que isto vai ter na vida das crianças e dos pais, além de contribuir para que se perca um bom estabelecimento de ensino», acrescenta a empresária, para quem também está em jogo o futuro da localidade. «A escola mexe com a vida económica desta vila, não só em termos do comércio, como também do emprego. Há funcionários que estão a contrato e poderão não ter trabalho no próximo ano lectivo», alerta. «É uma decisão meramente economicista contra a qual todos temos que nos mobilizar», desafia Ana Lourenço, sugerindo inclusivamente um apelo aos antigos alunos do “Colégio” de São Pedro, que comemorou 50 anos em 2009. «Alguns têm nome feito na medicina, nos negócios ou na administração pública, isso também terá o seu peso», espera.
Já Maria Clara Correia, representante da Associação de Pais no Conselho Pedagógico, recorda que o Agrupamento engloba alunos das aldeias limítrofes dos concelhos de Trancoso, Mêda e Pinhel, mais de 300 crianças e jovens. «A questão que se põe agora é que não queremos ser absorvidos por um agrupamento situado em Trancoso. Esta escola tem história, tem resultados superiores às médias nacionais, já por várias vezes foi considerada a melhor do distrito da Guarda. Não temos casos de indisciplina dos alunos, só bons motivos para manter as portas abertas», refere numa carta enviada a O INTERIOR (ver pág.23). O seu receio é que ficando Vila Franca «sem directora, sem os serviços administrativos e, futuramente, sem as turmas do 3º ciclo, por cá sobre o espaço físico, vazio de alunos e de direcção», escreve, lembrando que as instalações foram remodeladas recentemente. «Há salas com aquecimento, um auditório, cantina e refeitório, bar e biblioteca, tudo com uma qualidade superior à media nacional», refere.
Também preocupado com o assunto está José Ambrósio. No entanto, o presidente da Junta começa por esclarecer que não se trata de fechar a escola, mas apenas de fundir num só os Agrupamentos de Trancoso, Vila Franca das Naves e a Secundária da “cidade de Bandarra”. «A minha expectativa é que o ministério recue nesta decisão», afirma. De resto, estava agendada para ontem à noite, no centro cultural local, uma reunião com pais, professores, directores e autarcas para analisar o assunto e decidir as medidas a tomar. Entretanto, Júlio Sarmento já veio criticar a «solução unilateral» da Direcção Regional de Educação do Centro (DREC) de fusão dos Agrupamentos Escolares do concelho. «O município não assumiu qualquer compromisso, nem lhe foi apresentada uma proposta concreta, mas tão só várias soluções possíveis que não acolheram o nosso consenso», adianta.
Contudo, o edil constata que a solução escolhida «não foi adoptada noutros municípios da região, porventura por motivos de satisfação de interesses partidários», critica, avisando, por isso, que a Câmara não vai aceitar no actual mandato «qualquer proposta de transferência de competências» e pondera mesmo deixar de realizar todo e qualquer protocolo de colaboração com o Ministério da Educação. No terreno está ainda o Governador Civil da Guarda. Santinho Pacheco deverá aproveitar a vinda da ministra a Trancoso, no sábado, com o primeiro-ministro para lhe entregar um memorando com os problemas que o distrito enfrenta na área da Educação. Por outro lado, vai convocar uma reunião com todos os autarcas e a directora regional para «todos percebermos e procurarmos soluções, pois há muita contra-informação nesta matéria», diz Santinho Pacheco.
Luis Martins
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