«Vou a Fátima a pé se a selecção perder os três jogos na África do Sul», «isto é uma brincadeira», «vou apoiar a selecção do Brasil, da Argentina e do Paraguai». Estas foram algumas das expressões repetidas pelos adeptos no passado domingo, no Complexo Desportivo da Covilhã, para manifestarem o seu descontentamento pela forma como decorreu o curto treino dessa tarde.
Aquela que foi também a primeira sessão da equipa aberta ao público já com os 24 elementos que integram os estágio na Covilhã ficou marcado pela revolta de muitos dos cerca de quatro mil adeptos que presenciaram o apronto. Cerca de 40 minutos após subirem ao relvado e depois de uma sessão de futvólei, divididos em três grupos, os jogadores recolheram aos balneários, provocando a ira de quem esteve desde manhã à espera de um bilhete para poder assistir ao treino. José Silva foi um deles: «As pessoas deslocam-se quilómetros desde as suas terras e é assim que querem cativá-las para apoiar a Selecção?», criticou. Já Carlos Monteiro considerou que, «apesar das pessoas tirarem muito do seu tempo para apoiarem a selecção, assistem a meia-hora de treino e vão-se embora. O povo merecia mais», defende o adepto. A opinião é partilhada por João Santos, para quem os atletas deveriam mostrar «um bocadinho mais às pessoas, porque isto foi um aquecimento», lamenta. Para Maria Gomes, «os jogadores tinham que ter vindo, ao menos, agradecer às pessoas».
Chamado à conferência de imprensa, Hugo Almeida disse não ter ouvido «assobios nenhuns». O jogador do Werder Bremen deixou ainda o recado: «Espero que as pessoas venham para apoiar. Para assobiar mais vale não virem. Nós estamos a representar o país, vamos fazer tudo para que fique orgulhoso de nós e não precisamos do nosso povo a assobiar-nos, só a apoiar-nos», sublinhou. Carlos Queiroz desvalorizou o incidente, considerando que «a receptividade e o carinho que as pessoas têm posto à volta da selecção têm sido evidentes e tem sido um entusiasmo crescente. Todas as pessoas estão, genericamente, satisfeitas». Ainda assim, não deixou de referir que, «às vezes, é difícil contentar todas as freguesias e há sempre aqueles que, quando não há razão nenhuma, nunca estão satisfeitos». O seleccionador nacional aproveitou também para reforçar o esforço que tem sido feito para o grupo «chegar a todos», numa «comunhão de valores com a selecção nacional que merece ser aplaudida».
Entretanto, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) emitiu um comunicado para explicar a opção tomada no domingo: «Por se tratar do segundo treino do dia, em véspera de jogo, e por se terem registado as elevadas temperaturas que têm obrigado a sucessivas alterações aos plano de trabalhos da selecção nacional, foi entendido realizar uma sessão mais ligeira, com cerca de 40 minutos de duração, tendente a salvaguardar os interesses da “Equipa de Todos Nós”, afinal a única razão para este estágio a caminho do Mundial na África do Sul». No mesmo documento lê-se ainda que o que se passou foram «situações isoladas de desagrado, totalmente contrastantes com o apoio generalizado e caloroso manifestado em todos os momentos pelo público presente». O comunicado da FPF refere também a «total disponibilidade dos internacionais portugueses e do seleccionador nacional que, sensibilizados pelas inúmeras e quase constantes manifestações de carinho, participaram numa bem sucedida sessão de autógrafos a que se prestaram de bom grado».
Rafael Mangana