Américo Rodrigues voltou a defender a criação de uma rede nacional de cine-teatros em Portugal, um passo que falta dar ao Ministério da Cultura desde o final da década de 90.
Na cerimónia evocativa do quinto aniversário do Teatro Municipal da Guarda (TMG), no último domingo, o seu director insistiu que a tutela «abandonou» os equipamentos lançados no mandato de Manuel Maria Carrilho, ex-ministro da Cultura, e sublinhou a necessidade de se constituir uma rede de salas «estruturada e estruturante, que o ministério não poderá tutelar, mas apenas apoiar financeiramente, e onde não não devem caber todos os teatros». Para Américo Rodrigues, não há «razoabilidade» em a tutela apoiar, por exemplo, o futuro Teatro Municipal da Covilhã. «É uma sala similar ao TMG, que está a 20 minutos daquela cidade, pelo que não faz sentido. Haja concentração, coordenação de esforços, e não dispersão», reclamou. De resto, o responsável lembrou o eterno problema da falta de apoios da tutela, isto apesar de ser um «teatro de referência a nível nacional e que presta um serviço público». O «reduzido» apoio mecenático e a «total dependência» financeira da autarquia são outros.
Mas, neste particular, o director assumiu não ser «desejável» que a situação se prolongue, pois o TMG é «um encargo demasiado grande para a Câmara, que também tem os seus problemas». Contratempos à parte, Américo Rodrigues também manifestou o desejo de criar um centro de arte contemporânea, aproveitando a colecção da artista plástica Maria Lino, e uma escola de artes cénicas na Guarda – «no Cine-Teatro, por exemplo», sugeriu – de forma a complementar o Teatro Municipal. «Só assim a actividade criativa aumentará na cidade, pois temos poucos criadores locais», disse, ansiando ainda pela abertura da Praça do TMG após a mudança do quartel da GNR. O director recordou igualmente que o complexo surgiu de «uma necessidade da comunidade», mas sobretudo de uma acção política da Câmara, que assumiu a cultura «como vector de desenvolvimento da cidade».
Por sua vez, António Pedro Pitta, director regional de Cultura do Centro, confirmou o que todos já sabem: «O ministério está muito aquém da organização dessa rede de teatros municipais, idealizada em 1995». O mesmo afirmou Jorge Barreto-Xavier, director-geral das Artes, que viveu e estudou na Guarda: «As soluções para o funcionamento e a gestão desta rede ainda não estão operacionais», acrescentou, admitindo que saíram goradas as suas expectativas de há dois anos – quando esteve no TMG pela primeira vez. O responsável abordou depois a criação de uma nova escola de artes, mas para avisar que o projecto tem que ser «diferenciador do que já existe» no país de forma a poder ser apoiado pela tutela. Barreto-Xavier não terminou sem elogiar Américo Rodrigues, dizendo que «a cidade e a região têm que estar agradecidas a um trabalho que deu alma e notoriedade nacional ao TMG». Quanto aos números destes cinco anos, registaram-se mais de 221 mil espectadores, que assistiram a 39.377 actividades, sendo de 57 por cento a taxa de ocupação média. No entanto, perto de 511.500 pessoas passaram pelo Teatro Municipal neste período. Segundo um estudo oficial, os guardenses (52 por cento) continuam a ser os principais usufruidores do «Ovni» – como lhe chama Eduardo Lourenço –, enquanto 35 por cento do público é oriundo da Beira Interior, 10 por cento de Viseu e três por cento de outros locais.
TMG foi «investimento que nos catapultou para as grandes cidades», diz Maria do Carmo Borges
Foi durante os mandatos de Maria do Carmo Borges na Câmara da Guarda que o projecto do TMG foi idealizado e passou do papel à prática. Contactada por O INTERIOR, a antiga autarca faz um balanço «muito positivo» dos cinco anos do equipamento cultural, elogiando o trabalho desenvolvido pelo seu director, Américo Rodrigues.
A ex-Governadora Civil defende que «o que se gasta na Cultura não é um gasto, mas sim um investimento no futuro», até porque «quanto mais cultura houver, mais criatividade haverá nas pessoas». Maria do Carmo salienta que era necessário na Guarda «um investimento que nos catapultasse para as grandes cidades. Foi um sonho transformado em realidade». De resto, enaltece a atitude do actual executivo em «continuar a fazer um trabalho muito sério» e por ter tido «o engenho de colocar uma pessoa à frente do TMG que continua a dar cartas na programação regional, nacional e até internacional». Assim, sente-se «muito bem por ter feito parte de uma vasta equipa» que trabalhou para a concretização deste equipamento, que foi «um sonho de muita gente», considera Maria do Carmo Borges, que confessa ter tido «muita pena» por não ter podido estar presente nas comemorações do quinto aniversário. «Sem o TMG, dificilmente a Guarda seria o que é hoje», sublinha, sendo que a cidade «precisava de um equipamento deste género».
Luis Martins