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Eia, fia-te lá nos vulcões

Observatório de Ornitorrincos

No Atlântico Norte, ali como quem vem de Badajoz e vira à esquerda nas Berlengas fica a Islândia. A Islândia é conhecida pela regularidade com que incomoda a Europa continental. Em 2009, a bancarrota islandesa fez milhares de pessoas perder as poupanças. Em 2010, o vulcão Eyjafjallajökull – em português Eiiáfiátlaiócutle – faz milhares de pessoas perder os aviões. E há vários anos que a cantora Bjork tem feito milhares de pessoas perder a paciência.

A língua islandesa, além de impronunciável, tem no alfabeto as letras ð e þ mas não usa a letra z, que foi abolida em 1974. Para se comparar o nível de desenvolvimento entre a Islândia e outros países, façamos o teste com Portugal: ao mesmo tempo que o MFA se entretinha a acabar com uma ditadura de quatro décadas, já os islandeses estavam numa outra dimensão, aniquilando definitivamente o uso da letra z. Enquanto em Portugal se procurava baixar o número de analfabetos, a Islândia quis apenas diminuir o alfabeto.

A lava expelida pelo Eiiáfiátlaiócutle atinge temperaturas altíssimas. Para o leitor ter uma noção aproximada do calor perto do vulcão, imagine o areal da Figueira da Foz a meio de uma tarde de Agosto. E o congestionamento dos aeroportos europeus é como sair da Figueira da Foz pela marginal ao fim da tarde.

Perto do Eiiáfiátlaiócutle fica outro vulcão, chamado Cátia, que pode a qualquer momento entrar também em erupção. Cátia, dizem os especialistas, pode ser estimulada pela vibração do Eiiáfiátlaiócutle e começar a expelir material quente e viscoso. Só não me lembro se ouvi estas declarações na CNN ou no Hot TV.

Quem não deve ter ficado nada contente com esta explosão do Eiiáfiátlaiócutle são os ecologistas. Anos a lutar contra o fumo das fábricas, dos carros e dos cigarros e em apenas três dias um vulcão de nome esquisito enche a Europa de cinza. O ano passado a Rússia foi o mealheiro da Islândia, agora a Europa está a ser o cinzeiro.

A Islândia, terra de sagas viquingues e primeiras-ministras lésbicas, tem pouco mais de 315 mil habitantes. Se for necessário proteger a população da actividade vulcânica, eu posso contribuir com esse esforço humanitário de receber as cinco islandesas mais giras no meu apartamento. Desde que, como é óbvio, me ensinem a pronunciar Eiiáfiátlaiócutle.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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