A Protecção Civil municipal anunciou que, a partir de agora, os principais acessos à zona alta da Guarda serão antecipadamente cortados sempre que houver nevões para permitir a limpeza das ruas «de dentro para fora», disse, segunda-feira, o vereador responsável pelo pelouro na autarquia.
«O objectivo é evitar a circulação na cidade para que os nossos homens e máquinas possam trabalhar no desimpedimento das vias sem contratempos como os que se verificaram na semana passada, em que vários carros obstruíram as ruas impedindo a intervenção das equipas da autarquia», justificou Vítor Santos, no dia em que a neve voltou a criar contratempos na cidade mais alta. Mas, desta vez, nada comparável com o autêntico pandemónio que se viveu na passada quarta-feira, quando uma espessa camada de gelo paralisou a cidade e implicou a proibição da circulação automóvel e pedonal nas ruas mais íngremes. Por causa daquilo a que o serviço municipal da Protecção Civil classificou de «condições extremas e atípicas», o caos esteve instalado durante toda a manhã, par o qual também contribuíram alguns condutores de jipes verdadeiramente irresponsáveis.
Além de carros bloqueados na via, registaram-se vários acidentes e muitas quedas de transeuntes. Segundo fonte hospitalar, as Urgências do Sousa Martins atenderam nesse período cerca de 70 pessoas, das quais 34 eram vítimas de quedas, a maioria sem gravidade. Com temperaturas a rondarem os seis graus negativos, andar na rua era um perigo de tal ordem que as escolas não abriram, enquanto os serviços públicos funcionaram a meio gás e muitas lojas permaneceram fechadas todo o dia. Também não houve distribuição de correio e os jornais só chegaram às bancas do centro da cidade depois de almoço, com a situação praticamente normalizada. Na A25, o trânsito esteve cortado até cerca das 10 horas entre os nós da Guarda e Pinhel. Tal como no ano passado, por causa de um nevão, a actuação da Protecção Civil voltou a ser muito criticada.
Protecção Civil foi «ineficaz»
O NERGA – Associação Empresarial da Região da Guarda considerou mesmo que a sua intervenção foi «deficiente e ineficaz» e responsabilizou aquele serviço «pelos elevados prejuízos que as empresas e outras instituições sofreram, face ao elevado número de pessoas que não puderam ou quiseram deslocarem-se ao seu local de trabalho». Isto porque, «apesar dos reiterados alertas efectuados a nível nacional, não tomou as devidas precauções de modo a evitar o caos a que a Guarda hoje assistiu». A associação alega ainda que a geografia da cidade «não pode ser um entrave ao desenvolvimento, face à ineficácia de actuação da protecção civil, sempre que as condições climatéricas se deterioram». O caso parece ter servido de emenda, já que, na noite de domingo, a circulação rodoviária de pesados e ligeiros foi cortada nas rotundas de S. Miguel (acesso A25) e do ‘G’ (EN18) logo que caíram os primeiros flocos de neve. «O trânsito foi desviado para a VICEG e abrimos as ruas gradualmente, à medida que houve condições, tendo sido possível circular nas principais artérias da cidade a partir das 10 horas», declarou Vítor Santos.
O vereador revelou também que, nessa noite, três carrinhas da autarquia fizeram a ligação entre a estação de caminhos-de-ferro e a cidade, tendo transportado os passageiros do Intercidades proveniente de Lisboa. Mais azarados foram os passageiros de dois autocarros que tiveram de ser evacuados porque os veículos ficaram retidos no acesso ao centro. Escusando-se a reagir às críticas, Vítor Santos sublinhou que o município tem «equipamento suficiente para actuar nestas condições adversas desde que haja interligação entre as diversas entidades [Protecção Civil, Área de Vias e Trânsito da autarquia, Estradas de Portugal, Bombeiros, Centro Distrital de Operações e Socorro, PSP e GNR] e que os automobilistas respeitem os avisos». De resto, reiterou que o que se passou na passada quarta-feira foi inesperado: «As informações de que dispunhamos não nos diziam que ia haver gelo e uma descida abrupta de temperatura. Por isso, a resposta dos serviços foi dada em função dos equipamentos, do pessoal e do cenário, que bloqueou os meios da PSP e da Protecção Civil», referiu.
«Provámos que temos capacidade para dar resposta às solicitações», acrescentou, recordando que a Guarda é uma cidade de montanha que «nos últimos anos não tem sentido o clima normal de Inverno». Nestes dois dias problemáticos actuaram 30 homens e foram gastas 18 toneladas de salgema, segundo o responsável.
Luis Martins
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