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«Os que não são de cá e vêm só pedir o voto desprezam o distrito»

Entrevista a Carlos Peixoto, cabeça-de-lista do PSD pela Guarda à Assembleia da República

P – Qual é a sua meta nestas eleições?

R – Ganhá-las, de preferência com maioria, isto é, eleger o terceiro deputado, Ângela Guerra.

P – Acha que o voto de descontentamento manifestado nas Europeias também vai sentir-se nas Legislativas?

R – São eleições de natureza substancialmente diferente, mas também não tenho dúvidas que os portugueses deram nas Europeias um sinal inequívoco de que estão cansados da governação socialista. Foi um cartão amarelo ao Governo do engenheiro Sócrates e a minha esperança é que nas Legislativas o povo português, nomeadamente o do distrito da Guarda, lhe dê o cartão vermelho, porque ele não merece continuar a ser primeiro-ministro. Toda a gente sabe que vivemos pior do que há quatro anos e meio, o desemprego aumentou brutalmente, as empresas estão mais pobres, mais descapitalizadas e não têm os apoios que deviam ter, os agricultores estão descontentes, os professores foram mal tratados e a justiça está caótica.

P – O slogan da sua campanha é “gente de cá”. Acredita que essa ideia vai fazer toda a diferença nestas eleições?

R – Acredito que deveria fazer toda a diferença relativamente à candidatura do PS, porque não é possível que alguém que não vive, não nasceu, não conhece, nem nunca trabalhou no distrito, o possa defender como se impõe. O candidato e cabeça-de-lista do PS, não sendo de cá, já veio dizer numa entrevista ao jornal “Público” que logo que seja eleito vai centrar a sua actividade e intervenção política no Porto. Ou seja, ele próprio reconhece que irá embora depois de eleito. Nesse sentido, a nossa candidatura faz toda a diferença, porque somos de cá e ficamos cá a fazer o que temos feito nesta pré-campanha, que é contactar instituições e associações, presidentes de Câmara, falar com pessoas que nos conhecem, aquilo que o PS não tem feito. Isto é inédito, já que nunca no distrito da Guarda um partido nomeou como cabeça-de-lista um homem de fora.

P – O PSD tem condições para desempatar o actual número de deputados eleitos pelo distrito?

R – Penso que sim. É uma meta ousada, mas somos de cá e tratámos bem o distrito, os que não são de cá e vêm só pedir o voto desprezam o distrito. Se os eleitores tiverem em conta esta evidência e também que nos últimos quatro anos o distrito foi ainda mais esquecido, com um primeiro-ministro que prima pela arrogância, falta de diálogo e alguma prepotência, e que do outro lado têm uma candidata cujo programa está focado no distrito, nas pequenas e médias empresas. O PS tem o lado negativo de apostar nos grandes investimentos públicos megalómanos, como o TGV, a segunda auto-estrada Lisboa-Porto, mais uma ponte sobre o Tejo ou o novo aeroporto. São investimentos importantes para o país, mas que neste momento os portugueses não estão dispostos, nem podem pagar, porque não têm dinheiro para isso. O nosso programa prevê um investimento público de proximidade, como a recuperação das Aldeias Históricas e a aposta nas pequenas e médias empresas. O Bloco de Esquerda quer propor a extinção de todos os benefícios fiscais de que usufrui a classe média, a franja da sociedade que sustenta o país e o distrito. Ora, não se pode apoiar um partido que quer destruir a classe média. Já o Partido Popular de Paulo Portas quer diminuir os impostos e obter receitas com portagens na A23 e A25, medida que agravaria brutalmente os custos de transporte dos nossos empresários.

P – Acha que a Guarda vai ter um hospital novo ou um novo hospital?

R – Sinceramente, acho que vai ter um hospital novo, agora não sei se será um novo hospital. Em matéria de saúde, a Guarda está a ser ultrapassada pela Covilhã e por Viseu e, portanto, não sei exactamente o que o Governo quer para a Guarda nesta área. Sei é que, aproveitando-se a Escola Superior de Saúde e a criação de novos cursos, é possível articular a existência de um hospital novo, de novas instalações, com a mais-valia técnica que pode surgir desses cursos e que nós defendemos que sejam ainda aumentados.

P – É a melhor solução para o distrito e para quem já esperou mais de 20 anos?

R – Acho que a existência deste novo hospital não resolve os problemas do distrito, porque o que o Governo do PS quer acabar com os serviços de Urgência de proximidade, encerrar os serviços de atendimento à noite e isto é mau. Não podemos correr o risco de ter uma pessoa, idosa, numa ponta do distrito com um problema qualquer do foro cardíaco e que tenha que ir à Guarda à noite porque os serviços locais estão encerrados. A existência de um hospital é sempre uma grande mais-valia, mas não é tudo, também temos que manter os tais serviços de proximidade.

P – As propostas que o PSD apresentou há 15 dias mais parecem um programa de Governo Regional. Como vai concretizar a criação de um museu de arte contemporânea ou um centro desportivo de alto rendimento?

R – É possível criar um museu de arte contemporânea, em primeiro lugar pela originalidade, porque não há em mais lado nenhum e é preciso marcar a diferença. No distrito temos edifícios riquíssimos que estão bem preparados e podem, com muito pouco dinheiro, ser transformados num museu desse género, com colecções que também já existem no distrito. Portanto, podemos, com poucos custos, criar um museu de referência a nível internacional. Quanto ao centro desportivo de alto rendimento, que eu saiba não existe nenhum no país e vemos hoje os grandes clubes de futebol estagiar na Suíça ou na Áustria. Temos a Serra da Estrela que, a partir de uma determinada cota, reúne os requisitos necessários para um centro desportivo ser considerado de alto rendimento. Nós pensamos que com estes projectos podemos dar a volta a esta anemia que nos vai afectando e consumindo diariamente.

P – Como avalia os últimos PIDDAC para o distrito?

R – Os PIDDAC são aqueles instrumentos que prometem muito, mas dão pouco. Não é por aí que se avalia o investimento efectivamente feito. Trata-se de um plano previsional que nos diz aquilo que se pretende fazer em determinado ano no distrito. Algumas das obras inscritas são começadas e concluídas, outras nunca saem do papel. Portanto, eu não corro atrás do PIDDAC, que, para o distrito, tem sido insuficiente para inverter este estado de coisas nos últimos anos. Aliás, as recentes governações, apostando essencialmente nas acessibilidades e na melhoria dos eixos rodoviários, têm sido políticas absolutamente ineficazes para dar a volta ao distrito da Guarda. Por isso, é que temos que apostar em projectos mais imaginativos, que nos diferenciem dos outros.

P – Os membros do Governo têm vindo visitar obras e assinar protocolos, curiosamente sempre em municípios socialistas. É campanha encapotada?

R – É o engenheiro Sócrates no seu pior estilo. Nestes últimos meses, o Governo tem-se desdobrado a fazer inaugurações e até de hospitais que nem camas têm, como aconteceu em Seia. Isto é propaganda, é política de plástico. É por isso que as pessoas já olham para estas inaugurações com suspeitas, às vezes em tom cómico. Durante quatro anos, os Governos e as Câmaras podem fazer inaugurações sempre e quase nunca as fazem, mas a 15 dias das eleições andam numa fuçanga desatada para mandar poeira para os olhos das pessoas, e é isto que tem que acabar para credibilizar a política.

P – Carlos Peixoto como cabeça-de-lista às legislativas é a antecâmara para que seja candidato à Câmara de Gouveia em 2013?

R – Este desafio – que, com a eleição, espero que me dê a oportunidade de ir para Lisboa – vai-me dar mais experiência política e daqui a quatro anos estarei muito mais apto a desempenhar funções políticas no país, e Gouveia não está fora do país. Ainda assim, pensar em política a quatro anos é um exercício que não deve ser feito, é muito arriscado. É melhor pensarmos mais curto em termos de ambições políticas, até porque esta legislatura pode demorar dois ou quatro anos. O futuro a Deus pertence.

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