P – Que balanço faz da fase Bravo de combate a incêndios florestais (de 15 de Maio a 30 de Junho)?
R – Esta fase registou poucos incêndios e pouca área ardida, mesmo quando comparado com os últimos dois anos, que já foram bons. Houve uma área ardida que podemos considerar quase residual. Ao contrário da fase Alfa, que terminou a 15 de Maio, e que registou muito mais incêndios. No total, de Janeiro a 14 de Junho, houve 474 ocorrências e uma área ardida de cerca de 1.640 hectares, enquanto que no ano passado, em igual período, foram 332 ocorrências e uns 450 hectares ardidos. Por isso, a área ardida mais do que triplicou em relação a 2008.
P – O que terá levado a esse aumento?
R – Os meses de Março, Fevereiro e parte de Abril. Há muitos factores que o podem ter provocado. O primeiro foi que tivemos um início de Outono e um final de Primavera muito secos e quentes. E também é um facto que as pessoas aproveitaram para queimar nessa altura. Não sabemos se é uma mudança de hábito por parte das pessoas que costumam fazer queimadas ou se foi um caso meramente fortuito. As queimadas para renovação de pastagem são efectuadas normalmente no final do Inverno, em Fevereiro e início de Março, antes da chegada da Primavera. No final do Inverno há muito material vegetal do ano anterior que secou, mas que ainda está em pé seco e que arde com facilidade. E a verdade é que o final do Inverno foi mais quente do que o ano passado.
P – Já foi tocada alguma das zonas classificadas?
R – Pontualmente, com excepção de uma. Foi um incêndio médio no início de Março na Serra da Estrela, no concelho de Gouveia, que se iniciou durante a noite. A detecção foi tardia, até porque os postos de vigia só entram em funcionamento a partir da fase Bravo. Só às 8 horas é que ficou resolvido. Arderam mais de cem hectares no parque natural. No entanto, pela informação que tenho, não foi afectada nenhuma zona crítica em termos de biodiversidade.
P – Quais as suas expectativas em relação à fase mais crítica do Verão, a Charlie (de 1 de Julho a 30 Setembro)?
R – Não podemos saber o que vai acontecer porque as previsões meteorológicas não são fiáveis a partir de duas ou três semanas. O grau de divergência com a realidade vai aumentando à medida que se aumenta a distância das previsões. Os parâmetros com que trabalham as previsões, os modelos, são pressupostos que podem não coincidir exactamente com a realidade, por mais pequenas que sejam as divergências.
P – Especialistas na área alertaram recentemente para o aumento da biomassa combustível nos últimos três anos, prevendo fogos de maior intensidade…
R – Quando há menos incêndios gera-se o aumento da continuidade de combustível e o aumento da biomassa. Isto significa que é preciso prever mecanismos de redução da biomassa, através de fogo controlado ou do desmatamento. É preciso é retirar combustível do campo, de uma maneira ou outra.
P – E isso está a ser feito?
R – Tem havido muitos projectos de fogo controlado que têm sido executados e a prevenção estrutural é, como se sabe, da responsabilidade da Autoridade Florestal, que tem feito uma série de acções. Julgo que é impensável fazer a limpeza de todos os 90 mil quilómetros quadrados que possa ter o país. O importante, em termos estratégicos, está definido e assenta nas bermas de estradas, acessos, perímetros à volta dos aglomerados urbanos, faixas em torno das habitações e todo um conjunto de infraestruturas onde é preciso fazer um esforço para que se reduza o número de ignições. Aqui é que é preciso fazer um esforço. A Estradas de Portugal continua com os trabalhos de ceifa e desmatação e, se fossem feitos no Inverno, não adiantava. Também não se podem fazer em Março, porque em Maio e Junho a erva cresce novamente. Têm de ser feitos imediatamente antes do Verão.
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