Imaginem que há um lugar arejado, cores de pastagem seca do Alentejo. Imaginem algumas casas simples e muita gente singular, peculiar, com seus segredos fundos. Imaginem que tudo se passa em Moçambique e há um doutor que é meio médico, que tenta tratar uma mulher que é meio velha, meio sedução, casada com alguém que está meio doente, que fala com ódio inteiro de um tipo que é meio político e muito alcoólico. A história é sempre incerta e vai do princípio ao fim enevoando, encantando e seduzindo numa espera por alguém que temos de suspeitar que vem, afinal, tudo são meias verdades apenas. Mas Sidónio Rosa é médico e nasceu na Guarda e é a personagem central do último romance de Mia Couto, que muito lhe tarda a mulher de Vila Cacimba, filha de Munda e Bartolomeu sozinhos. Os desejos mantidos e inebriantes a partir de um abraço, onde se mergulha uma vez, e não se esquecem mais. Assim foi Sidónio procurar Deolinda. O resto, tereis de ler, que a história é “abensonhada”.
Não sou um fã da literatura de Mia Couto e até lhe vejo um tom algo repetido, uma formulação de hiper-realismo ou de confabulações do real como receita, mas não posso deixar de sugerir esta leitura.
Por: Diogo Cabrita