O regime de avaliação dos professores veio levantar a questão das aulas a que todos os alunos assistem todos os dias. Umas mais interessantes, outras mais pesadas, umas eficazes mas insípidas, outras desarticuladas mas agradáveis. Então como é que poderíamos definir uma aula-modelo (se as há)? Talvez não estejamos longe da verdade se dissermos uma banalidade: que a boa aula é aquela que “resulta” em boa aprendizagem.
A ideia de aula e de fragmentação da aprendizagem em unidades tem logo que se lhe diga. Se bem que compreendamos que tem de haver descontinuidade e a programação ser dividida e estruturada. Um dos pontos fundamentais tem a ver com a adaptação do professor à unidade de tempo que tem pela frente para trabalhar com os seus alunos. Noventa minutos podem ser uma eternidade se o professor não tiver um roteiro para eles, um roteiro em que inclua os seus alunos, em que eles sejam sujeitos activos. Noventa minutos também eles descontínuos, divididos em duas ou três fases, com estratégias e temáticas diferentes, progressivas ou complementares.
Por outro lado, sendo o professor um animador da aula, subentende-se que ele fará trabalhar os alunos, sem ser ele a assumir grande parte das palavras da aula. Aqui pode vir à baila o trabalho em pares ou de grupo, em pequenos ou grandes períodos de tempo, conforme a tarefa. Pode vir à baila uma pequena pausa entre as fases da aula. Pode vir à baila uma movimentação dos alunos no espaço da sala, uma apresentação oral em cada aula, um jogo que inclua fichas que passam de uns a outros. Nada mais constrangedor para um aluno do que estar preso a uma cadeira e a uma mesa noventa minutos na mesma posição (os professores notam bem isso quando eles próprios estão em acções de formação!).
A terceira vertente é a do professor-motivador, professor que se mostra apaixonado por aquilo que faz, levando o aluno a compreender o interesse do que é ensinado e a encontrar um caminho para as suas falhas. É o professor que consegue que haja muitos alunos a prosseguir o trabalho em casa (TPC). É aquele que consegue lutar por que o aluno supere o seu atraso, aquele que leva o aluno mais avançado a procurar caminhos um pouco mais exigentes do que a média da turma.
Last, but not the least, o nível científico da aula: nível que deve ser elevado a partir da preparação científica do professor, mas traduzível para a linguagem dos alunos. O professor competente cientificamente só o é completamente quando adopta uma linguagem que, sem perder o rigor, aproxima o saber do nível dos alunos.
Joaquim Igreja (professor)