P – Como é que a fotografia se integra na sua vida?
R – A tempo inteiro. Não vejo a fotografia como uma actividade profissional, mas como um modo de vida, porque a todo o momento surge uma oportunidade de fazer uma fotografia, de forma que procuro trazer sempre a câmara comigo. É muitas vezes pela oportunidade que se consegue fazer uma fotografia diferente. Por isso, digo a toda a gente que, para mim, a fotografia é um modo de vida, para além de uma profissão com a qual escolhi ganhar a vida neste momento.
P – E como é que as suas fotografias foram seleccionadas para a revista francesa “Photo”?
R – O concurso tem vários temas – os convencionais em fotografia, desde ambiente, animais, paisagem, reportagem – e dentro daquilo que fui desenvolvendo ao longo do último ano, elegi as minhas melhores imagens para enviar para o concurso.
P – O que é que retratam e em que circunstâncias foram feitas?
R – Uma das fotografias foi contemplada na categoria de paisagem, e as outras duas são propostas para a capa da revista. A primeira tem uma pessoa a vislumbrar um horizonte com uma paisagem a perder de vista, que é habitual nas zonas montanhosas, nomeadamente na nossa. É a fotografia que serve de imagem da Guarda Digital. Foi o facto de me deslocar a um espaço como esse que me permitiu fazer aquele registo. Nunca se consegue registar aquilo que realmente se sente, mas dentro do que é possível com a máquina, o facto de haver uma pessoa a observar aquele ambiente ajuda a que depois a mensagem da fotografia se leia de outra forma. Nas propostas para a capa, uma foi recolhida durante o “Portugal Fashion” e outra durante a visita de uma escola de Celorico da Beira ao Porto, num ambiente descontraído. Nesta última surgiu a oportunidade de fazer alguns disparos com uma criança com uma flor.
P – Há um contraste muito grande de ambientes, nestas duas últimas…
R – Sim, uma decorre num ambiente claramente profissional e a outra num ambiente muito mais descontraído. Considero que a da criança até é mais artística que a outra, captada num ambiente mais convencional.
P – Vê-se a viver de outra forma que não da fotografia?
R – Sim. Trabalhei durante 10 anos em publicidade, cinco deles na Modelo/Continente como designer criativo, e fui convidado para criar o mesmo departamento para a Optimus. Correu sempre muito bem, tanto que, neste momento, são os meus principais clientes. Essa é uma das formas que poderia ter escolhido para viver, até porque tenho mais currículo na área de comunicação e design gráfico do que na fotografia. Mas escolhi a fotografia, pois foi uma coisa com que sempre me entrosei enquanto designer e que fui completando por acompanhar o trabalho dos fotógrafos com quem trabalhei. Isso ajudou-me a crescer na perspectiva da fotografia, quer em estúdio, quer em comunicação, quer artisticamente.
P – Acha que o seu trabalho é devidamente valorizado localmente?
R – Não esperava mais do que tenho conseguido. Ainda preciso de tempo para apresentar o que possa ser considerado um trabalho válido localmente, porque não é uma coisa que se consiga ao fim de ano e meio. Passados quatro ou cinco anos, quando tiver uma recolha significativa de trabalhos, aí sim conseguir-se-á algo que possa ser valorizado. Por exemplo, estamos numa cidade com neve e neste Inverno – em que já nevou várias vezes – ainda não consegui fazer as fotografias que queria da Guarda com neve. Porque ainda não caiu a neve suficiente, ou porque acaba por desaparecer muito depressa ou ainda porque não cai à hora do dia ideal e começa a ficar muito machada, não dando a oportunidade de fazer uma fotografia mais marcante. Acordo muitas vezes durante a noite nestas alturas em que está previsto nevar.
P – Que projectos tem em vista, localmente, na área da fotografia?
R – Tenho vindo a fazer muitas fotografias na região, na expectativa de vir a apresentar um trabalho publicamente numa exposição, como é convencional nesta área. Já tive uma no café-concerto do Teatro Municipal da Guarda, mas gostava de expor na galeria de arte do TMG ou no Paço da Cultura, apresentando a minha visão do que é a região. Temos muita coisa boa, mas temos de a mostrar da melhor forma. Faço fotografia com interesses para a nossa região e apresentá-las-ei quando tiver um trabalho mais completo, para que as pessoas possam ver que temos espaços lindíssimos e pessoas muito bonitas. E isso pode fazer com que a fotografia seja um instrumento de comunicação para esta zona. Mas não é algo que se consiga fazer num ano.