Em ano de três eleições, as autárquicas serão, obviamente, as que irão mobilizar localmente as estruturas partidárias. Numa altura em que, na região, já se vão conhecendo os nomes dos candidatos dos dois maiores partidos – e em que, exceptuando o Sabugal, a maioria dos actuais presidentes de Câmara irão candidatar-se a renovar mandato – na Guarda e Covilhã a oposição tem enormes dificuldades em escolher cabeça-de-lista.
1. Na Covilhã, ninguém da área do PS quer correr o risco de ser vexado pela suposta superioridade eleitoral de Carlos Pinto, isto apesar das polémicas recentemente vindas a público. É, aliás, muito estranho que, nos últimos três anos, não haja oposição a Pinto e não tenha emergido um nome que possa pelo menos interpretar a diferença ideológica. Longe disso. Os socialistas têm tido uma postura de completo silêncio sobre a governação maioritária do PSD, e nem a suposta ajuda dos dirigentes nacionais ou mesmo do Governo numa eventual penalização a Pinto tem contribuído para dar protagonismo aos socialistas. Tem urgência o PS-Covilhã em definir uma estratégia e escolher um nome, no mínimo para impedir um resultado escandaloso, como o de 2001.
2. Na Guarda, e depois de mais de 30 anos de domínio socialista, e sabendo-se da disponibilidade de Joaquim Valente para se recandidatar, o PSD volta a ter dificuldades em escolher um candidato.
Não é fácil. Em especial porque Ana Manso, na sua estratégia de domínio absoluto, não permitiu que alguém emergisse e fizesse oposição afirmativa e diferenciada. A estratégia da deputada, candidata derrotada em 2001 e 2005 e que ambiciona voltar a candidatar-se, passa por deixar o menos espaço de afirmação possível aos demais. Foi neste contexto que eliminou da corrida José Gomes, que depois de seis meses de oposição discreta, mas assertiva, foi varrido pelo “regresso” de Ana Manso à vereação. A deputada sabe que joga com o tempo e a indecisão dos demais e do próprio partido.
Álvaro Amaro mostra-se distante e desinteressado. João Prata, líder da concelhia e segundo de Amaro na distrital, é a opção que se segue. Muitos anos de dedicação ao partido e sete anos à frente da mais jovem freguesia do concelho (S. Miguel, que até à sua candidatura era um bastião socialista) são alguns dos seus argumentos. De resto, numa sondagem (das muitas que se fazem por estes dias) com três putativos candidatos – João Prata, Crespo de Carvalho e Júlio Sarmento –, os inquiridos deram preferência ao líder da concelhia.
Sabe-se que Sarmento não tem qualquer interesse em abandonar Trancoso (onde deverá ser eleito para um último mandato). Já Crespo de Carvalho, o vereador mais activo da oposição no mandato anterior, é bom comunicador, muito activo, bem informado, mas é independente e não tem uma base de apoio. De resto, depois de uma fase de grande disponibilidade, mostra-se agora mais recatado e menos disponível. Apesar disso, “deixa-se querer”. Se o PSD assim o desejar, pode contar com ele para ser candidato a presidente. E João Prata, até agora muito indeciso por achar prematuro avançar como candidato, ganhou alento ao ter conhecimento de que o seu nome é o preferido em estudos de opinião (mesmo sabendo que o PSD estava, segundo uma recente sondagem, 12 pontos atrás do PS). Ajudará também a convicção de que neste momento há uma grande desilusão em relação ao mandato de Valente, além da eventual aliança com o CDS-PP. O próprio já terá decidido. Falta-lhe ouvir a opinião do partido. E saber a posição de Manuel Rodrigues, que, diz-se, não quer, mas “deixa-se querer”. Na próxima sexta-feira, provavelmente, e se não houver surpresa, João Prata será o escolhido para concorrer contra Valente.
Luís Baptista-Martins
Luís Baptista Martins