Tudo na mesma no que diz respeito ao aumento do capital social da Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE). Na tarde de terça-feira, quando deveria ocorrer a subscrição oficial, O INTERIOR esteve no Cartório Notarial da Guarda mas nenhuma das partes compareceu. Questionado sobre este facto, José Relva refugiou-se no «código de conduta» dos notários e escusou-se a fazer qualquer comentário.
O aumento de capital social da sociedade ficou, assim, suspenso. Recorde-se que a Câmara da Guarda irá subscrever o aumento com a propriedade dos terrenos onde a PLIE está implantada. Foi precisamente a falta de documentos relacionados com a propriedade que, supostamente, esteve na origem de mais um adiamento no processo. Uma falha a juntar a outras, e que atrasam, mais uma vez, o avançar do projecto âncora da cidade e concelho. De resto, são do conhecimento público muitos dos atrasos que a PLIE tem sofrido.
«Os atrasos na PLIE devem-se única e exclusivamente à Câmara»
Na semana passada, Nuno Almeida, deputado socialista na Assembleia Municipal, responsabilizou o “chefe-de-fila” da PLIE (o NERGA) pelos atrasos na estrutura empresarial. A afirmação apanhou de surpresa Pedro Tavares, presidente do NERGA. O empresário não gostou do que ouviu e responde indignado a Nuno Almeida: «Isso deve-se ou à ignorância ou à má fé do senhor deputado. Ele vai ter de escolher uma delas», afirmou. Quanto à suposta «ignorância», o empresário esclareceu que, enquanto “chefe-de-fila”, o NERGA apenas representa e assume a gestão burocrática da PLIE, obrigações que «cumpriu na totalidade». «O deputado do PS deveria ter pedido explicações ao presidente da Câmara», sugere. Acrescentando que «o INTERREG, que já deveria estar encerrado há uns anos, não foi fechado porque a Câmara – e só ela – pediu por várias vezes a prorrogação do projecto. Esperemos que seja encerrado este ano», conclui Pedro Tavares.
No que concerne à segunda opção, uma suposta «má fé» de Nuno Almeida, Pedro Tavares diz tratar-se de algo pior: «Mais grave que a ignorância, é um deputado do PS dar-se conta de que a máquina dele não está a funcionar, porque efectivamente não está a funcionar, e tentar culpar os empresários», critica. O dirigente empresarial concretiza que «nem os empresários que são sócios da PLIE, nem o próprio NERGA (enquanto representante dos empresários), tiveram qualquer papel negativo neste processo. Pelo contrário. Não têm conseguido dar mais dinâmica ao projecto porque o executivo camarário não tem, até agora, sabido levar as coisas a bom porto», considera. A este respeito, Pedro Tavares é claro: «Os atrasos devem-se única e exclusivamente à Câmara. As declarações inadmissíveis de Nuno Almeida foram um tiro no pé», garante.
Por outro lado, o empresário esclarece que o INTERREG é «uma “gota de água no oceano”», referindo que cerca de dois milhões de euros ainda não chegaram à Guarda. E acredita que isso só acontece por «dificuldades financeiras da Câmara», uma vez que a autarquia tem de pagar primeiro a parte que lhe compete para depois receber os fundos candidatados.
«Deveríamos saber se a despesa corrente da Câmara não será já maior que as receitas»
O empresário está convicto de que «ficava muito mais barato ter pedido dinheiro à banca há mais de dois anos». Uma estratégia que está agora a ser seguida pelo executivo de Joaquim Valente – a Assembleia Municipal aprovou na semana passada a contracção de dois empréstimos com vista a financiar a parte da Câmara em candidaturas a fundos comunitários –, mas que, no entender do presidente do NERGA, surge de forma extemporânea: «Choca-me como é que uma Câmara que se propôs fazer o saneamento financeiro da instituição consegue aumentar as dívidas. E sem obra. Nós todos, na Guarda, deveríamos saber se a despesa corrente da Câmara, sem investimentos, não será já maior que as receitas», questiona.
Sobre o recente anúncio do nome das três primeiras empresas a instalar na PLIE, Pedro Tavares mostra-se contido – «dessas empresas já se anda a falar há muito tempo» – e acredita que o sucesso seria maior se a gestão da plataforma não fosse da autarquia. «Se a instalação de empresas dependesse do NERGA e dos empresários, de certeza que a PLIE já era geradora de emprego há muito tempo. Além de que se tudo tivesse corrido como deveria, não haveria apenas três empresas anunciadas, mas mais de 30. E não pensem que estou a exagerar», afirma. Apesar das várias tentativas, não foi possível obter uma reacção de Joaquim Valente.
Conhecidas as primeiras empresas da PLIE
A transportadora espanhola Olano e as holandesas Pieter Smit – Theater Rock Portugal e Mobile Vision serão as primeiras empresas a instalar-se na Plataforma Logística de Iniciativa Empresarial (PLIE) da Guarda. Os nomes foram finalmente revelados na semana passada, na reunião de Câmara, mas porque constavam de três pedidos de isenção de Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Bens Imóveis.
«Foi deliberado, por unanimidade, isentar estas empresas que vão localizar-se na PLIE, porque é preciso dar incentivos para captar investimentos. De resto, duas delas decidiram criar na Guarda a sua sede», anunciou o presidente do município. No entanto, Joaquim Valente não soube dizer quando tencionam arrancar com os investimentos e muito menos os postos de trabalho a criar na Guarda. «Imagino que as empresas em causa já estão a proceder junto da administração central para obterem apoios à sua instalação nesta região, o que deve acontecer em 2009. De resto, da parte da Câmara, haverá uma “via verde” para acelerar a concretização destes e doutros projectos empresariais», revelou.
O edil acrescentou que estas três empresas vão ocupar 14 lotes na área da plataforma logística, sendo que a Olano, que já opera a partir da Guarda, tenciona instalar um centro logístico de frio com 20 mil metros cúbicos de capacidade. Segundo informações da autarquia, a Pieter Smit é um grupo holandês de logística para a produção de espectáculos culturais e eventos desportivos que escolheu a Guarda para sediar o seu centro operacional para Portugal e metade da vizinha Espanha, incluindo a região de Madrid. Já a Mobile Vision está vocacionada para a promoção de espectáculos multimédia.
Além destes três projectos já assegurados, Joaquim Valente garante haver «inúmeras intenções de investimento e alguns contratos de instalação rubricados com empresas nacionais e estrangeiras».
Igor de Sousa Costa