Tenho um grupo heterogéneo no pensar e nos gostos que, invariavelmente à quinta feira, à tarde se junta para a confraternização semanal.
Há alguns como eu que somos novos há muito tempo, há uns quantos mais novos, mas que pensam velho e há os mais velhos que nalgumas coisas pensam novo e noutras sentimos que as suas ideias foram envelhecendo.
É boa gente, e seguramente não se junta pela qualidade da comida, porque já fomos sofrendo algumas deceções.
Estes jantares, para além do afiar a língua viperina, são simultaneamente uma partilha saudável de opiniões numa mesa de alguns extremos. Discute-se política local e nacional, comenta-se o quotidiano da cidade, fala-se de bola, degustam-se em palavras alguns vinhos e outras miudezas no meio de umas vitualhas.
No meio deste estendal de mil e uma coisas vamos também partilhando outro tipo de fazeres, desde a viagens a visitar património, ajudar a promover obras de alguns honoráveis cidadãos da urbe, ou ações solidárias com instituições que nos merecem respeito e que dignificam a atividade associativa no distrito.
Todos vão tendo o seu percurso pessoal, profissional e de atividade social na sociedade sem grandes razões para críticas especiais, para além das que são habituais por algumas pessoas não gostarem de fulano, sicrano ou beltrano.
Vamos ao que interessa. Este grupo foi desafiado para promover a instalação de um ponto de recolha da Ephemera na Guarda. Naturalmente que não irão ser os “comensais da quinta”, que irão desenvolver todo o trabalho de instalação de um local que promova a recolha de documentação para um centro em boa hora criado na Marmeleira pelo Dr. Pacheco Pereira.
Conseguimos que a Associação de Jogos Tradicionais da Guarda fique com a responsabilidade de recolher todos os documentos que acharem úteis ajudando a fazer a primeira triagem e a construir um local que seja o primeiro depósito para posterior catalogação e colocação à disposição do público de tudo o que possa ajudar a história contemporânea do país.
Claro que isto não será algo estanque, mas será fundamentalmente aglutinador de um conjunto de pessoas que possa ajudar a colocar mais um centro “Ephemera”, igual ao que há em muitas capitais de distrito ou cidades do país, num trabalho que tem a vindo a ser crescentemente valorizado.
O projeto Ephemera é extraordinário pelo pioneirismo ao nível português e quase único a nível europeu, e quando o Dr. Pacheco Pereira foi por nós desafiado a resposta foi pronta e entusiasmante. A Guarda não vai ficar mal e dia 15 de novembro está prevista a sua vinda para explicar em detalhe o que é a Ephemera.
Porque nenhum de nós anda com projetos políticos em carteira, ou porque desejamos protagonismo, achamos que este movimento se pode alargar e vai permitir recolher e colocar à disposição de investigadores de todo o mundo documentos, ou outro tipo de objetos que permitam conhecer um passado que faça melhorar o futuro.
Aproveitei a minha crónica regular para sensibilizar as pessoas a aderir a esta iniciativa, e que dela surjam outras que coloquem o distrito e as suas gentes como fazedoras de coisas, que enobreçam a investigação e promovam conhecimento para afirmar com cada vez mais relevância a história e a cultura contemporânea portuguesa.
Também estamos avisados pela frase de Hemingway: «O primeiro esboço de qualquer coisa é sempre uma merda!».