Quando, a 21 de Maio de 2003, um jovem juiz irrompeu pelo Parlamento para entregar, em mão e com as câmaras de televisão atrás, um pedido de autorização para que o deputado Paulo Pedroso fosse presente ao primeiro interrogatório percebeu-se que uma qualquer outra coisa, além das crianças da Casa Pia, estava em jogo: lutas entre corporações? Desforras políticas? Exibição de um juiz que sentia que com este processo lhe tinha saído a sorte grande? Não sei. Sei que quem se dedica ao exibicionismo mediático num processo deste melindre não é de culpados que está à procura. Pedroso portou-se como se esperava: disponibilizou-se para ser ouvido imediatamente e para suspender o seu mandato. Mas o juiz queria espectáculo: Pedroso ficou em prisão preventiva numa cela com balde higiénico. Isolado dos outros presos por correr risco de vida.
A sentença desta semana é clara: tratou-se de um erro grosseiro, juridicamente definido como “erro indesculpável, escandaloso, crasso, no qual não cairia uma pessoa dotada de normal inteligência, experiência e circunspecção”. Isto porque “não havia indícios da prática pelo autor de qualquer tipo de crime, muito menos indícios fortes”. Mas a sentença, com indemnização, não chegou para moderar os justiceiros. Apesar da inocência ou culpa de Pedroso não estar em causa (como recorda a Juiza, “não foi sequer pronunciado pela prática dos crimes, por decisão já confirmada em sede de recurso”), Pedro Namora lá apareceu nos telejornais para conquistar na rua o que não saiu dos tribunais: uma condenação.
Cinco anos depois, apesar de nem sequer ter chegado à barra do tribunal, Paulo Pedroso é culpado. Não aos olhos da justiça. Mas para parte da opinião pública um ‘poderoso’ só pode ser culpado. E se a justiça diz o contrário é porque ‘os grandes safam-se sempre’. É assim que um inocente carregará a culpa de um julgamento mediático, indiferente a qualquer facto, para o resto da sua vida. Culpado por um dos crimes mais abjectos. Porque tem de ser. E a sentença saída do espectáculo televisivo teve uma assinatura: a do juiz Rui Teixeira. Por um minuto de fama condenou uma vida inteira. “Erro grosseiro”, disse o tribunal. Rui Teixeira continua a ser juiz. Paulo Pedroso perdeu grande parte da sua vida pessoal, profissional e cívica. Esperemos que o Estado cobre ao juiz o dinheiro que lhe custou este minuto de fama.
Um homem só
Soubemos esta semana que o CDS não tem vice-presidente há um ano e que o facto permaneceu na clandestinidade. Sejam quais forem as razões que levaram à saída de Nobre Guedes, este episódio é um excelente retrato da liderança de Paulo Portas. Com ele tudo se passa nos bastidores. E sendo hoje o CDS um deserto povoado por cadáveres políticos, nem o desaparecimento de um dos seus principais dirigentes levantou suspeitas. É natural: parecendo que está na penumbra, o CDS já morreu. A notícia é que ainda não chegou aos jornais.
Por: Daniel Oliveira