No Feital, pequena aldeia do concelho de Trancoso, repleta de castanheiros, moram poucas dezenas de pessoas. Podia ser uma localidade do interior igual a tantas outras, mas há algum tempo que não o é. Regressada à sua terra natal à cerca de 11 anos, Maria Lino criou uma associação cultural chamada Luzlinar e desde então o Feital tem “mais tempo” e passou a fazer parte da rota da arte contemporânea.
No próximo fim-de-semana acontece a décima edição do Simpósio Internacional de Arte e “reflexão” é a palavra de ordem deste ano da residência artística do atelier “Temos Tempo”. Altura ideal para passar em revista o trabalho desenvolvido pelas dezenas de artistas que por ali passaram. «O balanço é positivo», sublinha desde logo Maria Lino. Mas a artista não esconde que, a continuar sem apoios, não sabe se pode repetir a iniciativa. É que há «as viagens dos artistas estrangeiros, os alojamentos, a alimentação e outras despesas para pagar», enumera. E apoios nos últimos anos só da Fundação Calouste Gulbenkian. De resto, nem têm sido feitos catálogos das exposições porque «deixou de haver verbas para a edição». Nos próximos dias, tudo isto estará em debate: «Vamos pensar se vale a pena continuar e se há uma maneira diferente de fazer os encontros», sublinha a promotora.
Transformar o Feital num lugar onde se “respira” cultura pode ser considerada uma aventura arrojada. A artista garante que é mesmo: «Não é fácil, porque as pessoas ainda não perceberam que a arte é importante para a vida de todos», sustenta, sublinhando que esta é, assumidamente, a sua «grande luta». Para o Simpósio deste fim-de-semana, a Luzlinar convidou 16 artistas portugueses a regressar ao Feital para partilharem os seus testemunhos, num espaço de reflexão que irá desenvolver-se em quatro painéis. Os participantes são recebidos, amanhã à noite, com um jantar, mas as conversas só arrancam no sábado. O primeiro painel – “Será o artista plástico um solitário no seu trabalho?” – começa pelas 9h30. A partir das 11h15 será debatida a temática “Como interage o artista plástico com a natureza?”. Depois do almoço, os trabalhos recomeçam às 15 horas, com o painel “As marcas do simpósio no percurso de cada artista”. O espaço de debate está agendado para domingo, a partir das 10 da manhã, e vai versar sobre “O lugar da Arte no dia-a-dia global. Que soluções para a sobrevivência do artista?”.
À tarde será inaugurada uma retrospectiva de todas as edições do Simpósio Internacional de Artes do Feital, desde 1995 até 2007, com um espaço de projecção de fotografias dos trabalhos realizados. Mas este ano há outra actividade prevista. No sábado, entre as 10 e as 17 horas, vai decorrer uma visita a alguns abrigos de pastores espalhados pela serra do Feital. O objectivo é promover a construção de uma “casota”, percebendo as suas características e aprendendo a “linguagem” das pedras. O percurso dura cerca de 45 minutos. Pelas 13 horas será servido um almoço, criado por António Lino, no atelier “Temos Tempo”. A partir das 15 horas, o arquitecto José Afonso vai falar sobre os abrigos de pastores.
Rosa Ramos