“Começar a acabar”, de Samuel Beckett é a primeira peça a subir ao palco do Pequeno Auditório (PA) do Teatro Municipal da Guarda (TMG), no âmbito do Acto Seguinte – Festival de Teatro da Guarda que começa sábado e termina a 17 de Outubro.
O espectáculo – um monólogo interpretado por João Lagarto – será apresentado às 21h30, pela ACE – Teatro do Bolhão e conta a história de um homem à espera da sua última hora. Durante o processo, recorda momentos significativos do seu passado. As relações tensas com o pai. A ligação terna à mãe. Uma infância passada com grande agitação interior. A maturidade decorrida sem amor. Uma velhice vivida em solidão, sem mulher, filhos ou netos que o entretenham. Contudo, à medida que as memórias mais insignificantes lhe acorrem ao espírito, o homem evoca também assuntos comezinhos, de forma aparentemente aleatória. O monólogo, que estreou pela primeira vez em 1970, é a junção de três narrativas de Samuel Beckett e tem como tema principal a inevitabilidade da morte. “Começar a acabar” tem encenação e interpretação de João Lagarto e valeu ao actor o Prémio da Crítica para Melhor Actor de 2006, atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro e o Globo de Ouro na mesma categoria. A música é de Jorge Palma.
O “Acto Seguinte” continua no dia 12, com “Gengis entre os Pigmeus”, de Gregory Motton, pela companhia Fora de Cena. O espectáculo é uma farsa ao jeito de “Rei Ubu” de Alfred Jarry e de “A Resistível Ascensão de Arturo Ui”, de Bertolt Brecht. Trata-se de uma trilogia sobre o consumismo e a perda de identidade. A tradução e a encenação são de Pedro Marques e a interpretação estará a cargo de Dinarte Branco, Teresa
Sobral, Inês Nogueira, Pedro Marques e Teresa Tavares. “Histórias em Papelão” do Aquilo Teatro marca o regresso do Festival, dia 18. Definido como um espectáculo “anti-espectador”, a peça é apresentada no Café-Concerto do TMG, a partir das 22 horas.
Dois dias depois, no Grande Auditório (GA), a partir das 21h30, há “A Festa”, peça protagonizada, entre outros, por Rita Blanco e Tiago Rodrigues. Trata-se de uma produção Mundo Perfeito e Teatro Maria Matos que teve origem em três workshops dirigidos pelo realizador português João Canijo, Pavol Liska e Kelly Copper, directores artísticos da companhia americana Nature Theatre of Oklahoma, e pelo coreógrafo congolês Faustin Linyekula.
A proposta que se segue do Festival de Teatro é um tanto ou quanto arrojada – um espectáculo de marionetas com bananas. “Circo Máximo”, da Companhia Marimbondo, foi premiado no Festival Internacional de Marionetas em Gens (Bélgica) e chega ao Foyer dos Auditórios do TMG (em quatro sessões, a partir das 20h45) nos dias 26 e 27.
Ainda no dia 26, será apresentada, no PA, a peça “Solitos”, do Azar Teatro de Espanha. Este é um espectáculo sem palavras, mas repleto de humor, ironia e melancolia. Trata-se de uma fábula sobre a incomunicação, que conta a história de um casal de empregados dos caminhos-de-ferro, cuja existência, silenciosa e monótona, é marcada pelos horários dos comboios, numa relação de gestos repetidos.
“A história do soldado”, de Charles Ferdinand Ramuz e Igor Stravinsky, posta em cena no âmbito do Projecto “InsideOut” com os reclusos do Estabelecimento Prisional da Guarda, é a proposta para o dia 2 de Outubro, no PA, a partir das 21h30. No dia seguinte, apresenta-se no mesmo espaço, em duas sessões (às 14h30 e às 21h30), o espectáculo de marionetas “História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar”, de Luís Sepúlveda, pela Art’Imagem.
A encerrar a programação do Festival, a 17 de Outubro, há teatro visual, com “Quadrar a Roda”, de Jens Altheimer. Trata-de de um espectáculo que cruza dispositivos metálicos com a manipulação de bolas, máquinas obstinadas com movimentos frenéticos e efeitos especiais artesanais com um frágil universo pessoal, tanto teatral como físico. Ainda no âmbito do “Acto Seguinte”, Jens Altheimer vai orientar uma oficina de circo, na Sala de Ensaios do TMG, de 14 a 16 de Outubro.
Rosa Ramos