Além de viverem, desde sempre, sem saneamento básico, os cerca de 20 moradores da Quinta da Boavista, em Freixedas, no concelho de Pinhel, têm agora uma nova “dor de cabeça”. A causa está na rectificação do traçado da Estrada Nacional (EN) 221, actualmente em construção, pensado para desviar o trânsito da localidade. Para tal, desenhou-se uma nova estrada, que contorna a aldeia e que vai confluir com o traçado “antigo” na zona da Quinta da Boavista. «Tiraram o trânsito da aldeia, é um facto, mas canalizaram-no para aqui», critica José Manuel Cabral, um dos residentes.
As obras no local começaram há cerca de uma semana e, desde então, tem crescido a contestação desta pequena comunidade. Mas a polémica já não é de agora. Desde 2003 que uma comissão de moradores tem tentado alterar o traçado, mas sem sucesso. Chegou a haver contactos com a direcção distrital da Estradas de Portugal (EP), o último dos quais há um ano: «A única resposta que obtivemos foi o avançar das obras e a indicação de que já não seria possível alterar o traçado», recorda o presidente da Junta, Filipe Augusto. Assim, e perante a impossibilidade de encontrar outra solução, os habitantes reclamam agora a construção de uma rotunda – que obrigue os automobilistas a reduzir a velocidade – ou de um viaduto. «Vai haver uma recta enorme, propícia a velocidades excessivas, como já se nota, aliás», refere José Cabral, proprietário de mais de duas dezenas de vacas que atravessam, diariamente, a estrada. Não muito longe, há também quem tenha rebanhos de mais de 200 cabeças de gado.
«Já para não falar do facto da população ser eminentemente idosa e demorar algum tempo a fazer a travessia», alerta o presidente da Junta. «Segundo se consta querem vedar toda a extensão da estrada, deixando apenas uma abertura junto ao cruzamento que vai ser criado na Quinta. Assim sendo, como é que os moradores vão aceder às suas propriedades agrícolas», questiona o edil. Nada contentes com o rumo da obra, os residentes apresentaram alternativas: «Existe uma quelha pública que vem de Gouveias e que não passa no meio das casas. Poderia ser uma possibilidade até mais económica», sugere José Cabral. Até porque, «se o objectivo era desviar a circulação, tanto dava ser por aqui ou uns metros atrás», defende, exigindo agora que a EP coloque semáforos para controlar a velocidade. «É o mínimo que podem fazer. Só havendo algum acidente grave, que tire a vida a alguém, é que o caso voltará a ser repensado», lamenta, por sua vez, o presidente da Junta.
Filipe Augusto explica que a Câmara de Pinhel já terá entregue à EP documentação a requerer a construção da rotunda. Entretanto, o engenheiro responsável pela obra já reuniu com os moradores e prometeu fazer chegar «as preocupações dos moradores a quem de direito», refere o autarca, enquanto José Cabral avisa que, se não houver acordo, «a população terá de tomar outro tipo de medidas, como fechar a estrada».
Rosa Ramos