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«Alguns dos serviços programados estão em risco»

Cara a Cara – Entrevista

P – Como correu a primeira parte da “Operação Boa Vontade”, desenvolvida no último fim-de-semana?

R – Posso dizer que excedeu todas as nossas expectativas. Conseguimos um montante na ordem dos 4.000 euros, o que vai aliviar um pouco a nossa situação e permitirá saldar as dívidas para com pessoas que trabalham connosco na área da reparação automóvel. Além disso, vai desafogar os projectos que temos em curso e permitir-nos pensar em novas iniciativas.

P – Quais são as principais carências da delegação da Cruz Vermelha da Guarda?

R – Começaria pelo edifício onde estamos instalados, que já é um pouco exíguo, nomeadamente se pensamos em ideias para o futuro, com a abertura dos gabinetes clínico e jurídico. O nosso armazém também já é pequeno, pois é preciso dividi-lo em diversos grupos. Por outro lado, não temos uma garagem para as nossas ambulâncias, que estão na rua, o que contribui para a sua degradação. Necessitamos ainda, na parte material, de uma viatura ligeira mista, tipo 4L ou do género, pois temos projectos que a exigem e a sua falta não nos permite avançar. Precisamos de outra viatura de cinco a nove lugares para transporte de doentes não-acamados. E depois temos falta de recursos humanos – não de uma forma geral, uma vez que contamos com 64 voluntários, sobretudo jovens e na área da saúde – seniores ou reformados, que sejam sociólogos, psicólogos, assistentes sociais, canalizadores, electricistas, que se dispusessem a atender carenciados nas suas residências, fazendo nós de ponte.

P – Tendo em conta estas carências, há o risco de alguns dos serviços actuais terem de ser repensados ou encerrados?

R – Sim, alguns dos serviços programados estão em risco. Se, porventura, não resolvermos o nosso problema financeiro, é natural que não possamos levar alguns projectos avante. É também o caso do serviço de apoio domiciliário. Para os outros estamos a pensar reformular a organização da sede, mas é possível que não os possamos concretizar por falta de espaço.

P – Que balanço pode fazer dos primeiros meses do serviço de enfermagem prestado pela delegação?

R – Segundo os dados que tenho, foi altamente positivo. Atendemos aqui quase 200 pessoas, fizemos um rastreio de colesterol, diabetes, hipertensão arterial, e tudo gratuito. Isto faz-nos acreditar que tudo vale a pena, mas penso que o centro de enfermagem ainda não está muito divulgado.

P – Prevê-se o lançamento de novos projectos a curto e médio prazo?

R – Sim, já referi o serviço de apoio domiciliário e a abertura dos gabinetes clínico, com mais valências, e jurídico, virado para o apoio às minorias étnicas e, em especial, para a área do trabalho. Estamos também a ponderar a disponibilização de um gabinete de apoio a vítimas de violência doméstica. Outra aposta poderá ser a implementação da teleassistência, um programa destinado a pessoas idosas isoladas, que entrarão em contacto com um “call center” e serão apoiadas pelas delegações locais. Houve “Dicas do Cruzinhas”, com informações de saúde para as crianças e, neste momento, está em elaboração o “Cruzinhas Maior”, com conselhos médicos para os mais velhos, para que eles não vejam a idade como uma doença. E temos também em vista o Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados.

P – Acha que os guardenses se lembram mais da Cruz Vermelha na hora de pedir do que quando é preciso ajudar?

R – Eu sentia uma perda do sentido de solidariedade da comunidade em geral, mas a primeira fase deste peditório fez-me repensar essa ideia. Senti que há pessoas que querem ajudar. Por isso, agradeço a todos os que contribuíram, não só monetariamente, mas também os voluntários que cederam o seu fim-de-semana. O facto é que esta campanha excedeu as nossas expectativas e daí que a imagem da Cruz Vermelha esteja a mudar, as pessoas vão conhecendo a sua missão com os carenciados. E muito disto deve-se ao facto da Cruz Vermelha ir para a rua e falar com as pessoas.

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