Arquivo

PCP denuncia «violenta exploração» dos trabalhadores da Delphi na Roménia

Relatos ouvidos por “O Interior” falam em 12 horas diárias na linha de produção, sete dias por semana e uma única refeição quente por dia

A Direcção da Organização Regional do PCP da Guarda denunciou esta semana as condições de «quase escravatura» em que estarão a trabalhar os cerca de 200 trabalhadores da Delphi enviados para Roménia por causa da encomenda da Fiat. Citando relatos de familiares e de funcionários regressados na semana passada, os comunistas falam em 12 horas de trabalho diário nas linhas de montagem «a um ritmo acelerado», mais duas a três horas em deslocações e trabalho aos sábados e domingos.

«Estas são as condições de trabalho, em pleno século XXI, de trabalhadores portugueses ameaçados de despedimento e configuram uma verdadeira violação dos direitos humanos. Quem responde pela situação degradante em que estes portugueses se encontram?», questionam num comunicado. O PCP responsabiliza, por isso, o Governo por aquilo que consideram uma «violação grosseira» dos direitos dos trabalhadores e pelas consequências «que decerto advirão no futuro quanto à sua saúde física e psíquica». Por outro lado, consideram que a situação é a «antecipação» da aplicação das novas medidas preconizadas no Livro Branco para as Relações Laborais, divulgado há dias, e que, «entre outras barbaridades», propõe acabar com o conceito de horário de trabalho diário. Contactados por “O Interior”, familiares de quem está na Roménia e alguns dos regressados confirmaram as 12 horas diárias na linha de produção, sete dias por semana e uma única refeição quente por dia.

«O pior é a alimentação, porque não há refeitório e, ao almoço, somos obrigados a comer sandes compradas numa espécie de mini-mercado da fábrica. Só comemos em condições ao jantar, mas, às vezes, estamos tão cansados que preferimos dormir», narra um deles. O jovem, regressado na semana passada, que pediu o anonimato por temer represálias, admite ter ido para a Roménia para «ganhar dinheiro», mas não esperava condições «tão difíceis». “Trabalhamos das 6 às 18 horas, sábados e domingos incluídos, e de forma intensiva. O que me valeu foi saber que tudo acabava ao fim de um mês e os cerca de dois mil euros ganhos, fora o ordenado. Cá só os ganharia em três meses», garante. Mais preocupada está a mãe de outra operária, que viajou há três semanas. «Ela está bastante desanimada porque não lhes dão descanso. Se soubesse o que sei hoje não a tinha deixado ir, mas o dinheiro vai fazer-lhe muita falta se for despedida», afirma.

José Luís Besteiros, do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA), confirma que as condições de trabalho na Roménia são «bastante duras», mas considera «demasiado forte» a palavra escravatura. «As pessoas vão para ganhar dinheiro, mas, no início, não sabiam o que as esperava e acabaram por substituir os trabalhadores romenos na linha», refere. O SIMA e o PCP já questionaram as autoridades sobre o que se está a passar. Até ao fecho desta edição não foi possível obter uma reacção da administração da Delphi.

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply