Se alguém ainda duvidava das implicações das alterações climáticas no nosso quotidiano deveria reparar que um dia é Verão e no outro estamos à procura de “pellets” e a tratar furacões por Tu. Não sei se por terem vergonha de fazer o seu “landfall” numa América, cada vez mais, de Trumps, Maduros e Bolsonaros, Ofélia e Leslie rumaram à Europa. E se o Ofélia nos deu a oportunidade única de fazer de Nero um amador no ramo da piromania, do SIRESP um pagode e de alcançar um novo patamar na alegada corrupção, numa das maiores catástrofes de sempre, o Leslie veio apenas fazer bowling ministerial e como derradeira tentativa de desbloqueio do processo de deslocalização do INFARMED para norte.
Por norma, ao encontrar Portugal, os furacões entram rapidamente no modo depressão. Leslie, ao verificar que ia entrar por Lisboa e subir pelo corredor da A23 em direção ao interior, mudou de rota e rumou ao litoral Norte. O que se compreende. Não tendo um passe L123 para, por 40 euros mês, arrastar árvores e repórteres aos molhes de forma ilimitada na região metropolitana de Lisboa, e correndo o risco de ter que levar com a história do utilizador-pagador na mais cara autoestrada do país, de Torres Novas à Guarda, fez a escolha óbvia. Aliás, como fazem quase todos na hora de se estabelecer.
Sabendo que a força de um furacão é também mensurável pelo grau de destruição infligida, terá pesado na decisão do seu redireccionamento a quantidade de estragos que poderia fazer em cada uma das rotas. Um problema de afirmação e autoestima. Não arruinaria muitas casas, empresas, explorações agrícolas e outras infraestruturas porque simplesmente não existem. Esta semana, nem tendas. Na melhor das hipóteses seria capaz de arrastar, do Fundão, um Centro de Negócios que atrai emprego qualificado para o interior do país e que foi esta semana premiado pela União Europeia. Apenas o elevado consumo de cereja e de míscaros do Alcaide pode fazer acreditar as gentes da Cova da Beira que a aposta no emprego para fixar pessoas é fundamental. Aqui todos sabemos que isso se faz com turismo de eventos!
Sem esta benesse do Leslie, resta olhar para os pendentes de autopromoção que bailam nos postes de iluminação e acreditar. Estou convencido que um cristal na lapela, numa rotunda ou num cartaz, estupidifica as pessoas. Com o poder do cristal instituído qualquer evento fica imune à crítica, se forem ditas as palavras mágicas “Estamos a promover a economia”, ao estilo das propriedades milagrosas do Calcitrin e do aumento da capacidade de débito das baboseiras associadas.
No dia 27 de setembro, Dia Mundial do Turismo, foi anunciada a FIT 2019 e os respetivos milhares de metros quadrados de tendas. Se o Leslie quiser aparecer, não será bem-vindo. Mas daria jeito um furacão para justificar o turismo que tem voado do concelho. O encerramento do parque de campismo? Foi o Leslie que lá colocou um refeitório. O projeto do Hotel Turismo? O Leslie soprou os papéis do contrato. Pousada da Juventude da Guarda? Sacana do Leslie! Os apoios da piscina do Caldeirão? Tsunami…? “Os tapa misérias” na Praça Velha? Culpa do vento, claro. Mas nada que não possa ser ultrapassado por uma boa consultoria em Vistos Gold que nos ajude a fazer de S. Vicente a “Chinatown” das Beiras. Haja quem a sopre.