Illuminatus Spiritu

Escrito por Diana Santos

Nesta reflexão que precede o início de um novo ciclo, rompe do nevoeiro a esperança de um raio de luz, que alenta as forças de uma luta tantas vezes inglória. Por vezes, nem Deus sabe de tudo pelo qual já passámos, mas é precisamente tudo pelo qual já passámos que nos destaca dos demais. Nós, do alto desta montanha fria e distante, acreditamos iluminar o mundo com a luz das candeias vindas da passagem de tantas gerações. Somos diferentes, acomodados e resilientes, acolhedores e pouco sorridentes.
Não tivemos a sorte de um clima radioso, mas ganhámos a proeza de fazer lumes que acalentam qualquer alma. Entregaram-nos cedo ao destino, como filho órfão a desbravar caminhos. Abrimos trilhos, erguemos castelos por entre muralhas, escrevemos sonhos e convocámos numa imponente catedral o espírito de uma comunidade que havia de ser única.
Pedimos, em litania uníssona, o bem: que haja bem e que sempre o bem-haja, até ao fim dos tempos deste povo beirão que agradecerá perenemente com prece de bondade e gratidão.
Os últimos anos não foram generosos nem nos trouxeram a elevação merecida. De ambição diminuta, o poder político local foi protagonista de uma gestão pequena demais para o nosso destino de cidade altiva. O património suplica por respeito, limpeza, manutenção e valorização. Nunca estivemos tão longe da História que nos fez. Abandonou-se o passado e, simultaneamente, abandonou-se o futuro. Nenhum rumo nos rege, mas guia-nos a estrela polar que nos há de devolver o norte.
Somos um povo fiel à raiz e por mais que pareça que nos tenham aniquilado a identidade, a nossa essência resiste, porque somos fortes e estamos fartos de fados tristes. Decorámos versículos porque queremos a luz e, neste novo ano que se inicia, iremos limpar as mágoas e renovar a clareza de dias límpidos. Abrem-se esperanças de um futuro melhor, numa cidade de espírito fraterno.
A Diocese, que D. Sancho I trouxe da Egitânia, principia o ciclo da mudança que a Guarda irá atravessar. Um novo Bispo Diocesano numa cidade que tanto precisa de caminhos de salvação.
2025 será também o ano em que teremos a oportunidade para escolher novos protagonistas políticos, mais competentes, melhor preparados, mais lúcidos, com mais sensibilidade e visão futura. Um ou uma presidente à altura dos desafios contemporâneos, capaz de nos devolver a terra e à terra de que somos feitos. Alguém capaz de nos perceber e exprimir com magistralidade, projetando para voos longínquos a nossa unicidade.
O amanhecer ainda está escuro, mas cantemos, porque se Deus e nós, Guardenses, o quisermos, a Guarda há de ser um lugar bem melhor do que o que hoje, no escuro, habitamos.
Que os nossos espíritos se iluminem com a sensatez e a ousadia de quem ainda acredita que das penas se fazem asas e que, com asas, estaremos mais próximos da luz.

Sobre o autor

Diana Santos

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