Já percorreu o país de Norte a Sul a fazer retratos “à la minute”, agora parou na Guarda, pela primeira vez. Alberto Gomes, o retratista itinerante, chegou na segunda-feira e, se o tempo ajudar, fica por cá até ao final da semana, rumando depois em direcção à fronteira e à Suíça, o seu destino final.
«Ser retratista é uma arte e uma cultura, não tem nada a ver com profissão. Isto é arte, é a sétima arte, porque daqui é que saiu o cinema», proclama. A poucos meses de completar 73 anos, já leva 60 como retratista, mas a idade parece não lhe pesar e continua, por amor à arte, a fazer da fotografia uma profissão. Só que Alberto Gomes prefere chamar-lhe «uma arte e uma cultura». Natural da Póvoa de Varzim, é apaixonado pela fotografia desde os 12 anos, tendo herdado do pai o gosto pelo retrato a preto e branco e uma máquina já centenária. «Volta e meia arranjo umas peças e vou-a recuperando», refere. Sempre acompanhado pela esposa e o filho mais novo, ele percorre todo o território nacional «numa auto-caravana de “luxo” onde comemos, pernoitamos e tomamos banho». No entanto, «quando calha» vai até ao país vizinho fazer uns retratos. «Saí de casa há cerca de um mês. Passei por São Pedro do Sul, Viseu, Mangualde e, finalmente, na segunda-feira, parei na Guarda», conta. Mas é por pouco tempo, pois o destino é andar por Espanha durante seis dias, outros tantos em França, até chegar ao seu destino final. «A Suíça é uma casualidade porque tenho lá netos e no dia 19 de Maio um deles vai fazer a comunhão e quero estar presente», esclarece o retratista.
Entretanto, vai parando «aqui, ali e acolá, sempre onde arranjar um sítio jeitoso», acrescenta Alberto Gomes. Depois de percorrida esta longa viagem, espera retornar a Portugal para fazer a sua “tornée” nacional. «Por cá tenho um ano em que percorro o Sul, outro o Norte e no seguinte o Centro. Ainda há dois meses fiz toda a zona de Leiria, Figueira da Foz, Pombal e Batalha…», adianta. Contudo, há duas datas em que faz questão de estar em Espinho, terra natal da esposa e que o acolheu depois do casamento: o Natal e a Páscoa. «Nessas épocas quero-me em casa para estar com os filhos e os netos, porque o resto do ano ando quase sempre por fora». Apesar de dura, vive bem com esta vida itinerante. «Estou feliz. O facto de andar a percorrer o país de auto-caravana ajuda-me a passar o tempo e faço duas coisas em simultâneo: trabalho e passeio», confessa. Por norma, fica uma semana em cada cidade, pois «é muito difícil estar mais», garante. Alberto Gomes acredita que a arte de fazer retratos “à la minute” vai continuar a ser uma tradição de família. Ensinado pelo pai, também ele acabou por transmitir todos os seus saberes ao mais novo dos seus 10 filhos.
«Agora ele que ensine quem vier a seguir, já que, na família, só nós dois é que sabemos, enquanto no país somos apenas oito retratista deste género», afirma. Questionado quanto às principais solicitações dos retratados, o retratista refere que «muitos casais pedem-me uma montagem com um coração». Na Guarda o negócio vai de “vento em popa” e os pedidos de um retrato a preto e branco têm sido mais que muitos. «É o que eu gosto e nem dou pelo tempo passar. Enquanto puder continuarei a tirar retratos aqui, ali e acolá», acrescenta.
Tânia Santos