Entrou no Pingo Doce e pediu «um galão e o pão da avó com fiambre». É o menu 2.
Sacou de uma arma e gritou que era um assalto. Um olhar desesperado, um torpor das mãos. Um homem disse da mesa que lhe dava o dinheiro, mas guardasse a arma.
Sentaram-se na mesma mesa. A tensão subiu porque se olhavam nos olhos e um tinha a arma na mesa. Abriu a carteira e tirou algumas notas azuis.
– Chega-te, rapaz? O outro estendeu a mão, guardou o dinheiro e arrumou a arma. Saiu apressado sem comer as encomendas. A tensão arrefeceu. Falou-se disso durante semanas.
Passaram dois anos e entra um tipo bem arranjado no Pingo Doce. Na mesa ao fundo está um homem que reconheceu o rapaz da pistola, dois anos antes.
– Sente-se aqui! Ele sentou-se. – Quer um galão e um pão da avó com fiambre?
– Vim agradecer-lhe! Com o dinheiro que me deu fui para França e comecei a trabalhar. Nunca me vieram procurar e ninguém apresentou queixa de mim. Obrigado. Fiz uma empresa pequena e ganho bem. Graças a si! Sonhei que o encontrasse aqui.
Tirou um envelope e deixou-o sobre a mesa. Desculpe o que se passou. Estava desesperado. Está aqui cem vezes o que me deu naquele dia. O outro ainda disse que não precisava, que não era por isso, que lho tinha dado. O rapaz levantou-se e perguntou-lhe o nome.
– Tinha esta falha comigo. Não sabia nomear o meu benfeitor. Obrigado.
Um romance em duas pinceladas
“Sacou de uma arma e gritou que era um assalto. Um olhar desesperado, um torpor das mãos. Um homem disse da mesa que lhe dava o dinheiro, mas guardasse a arma.”