Na semana anterior a esta semana em que vivemos – e nos dias que correm, já não é não nada mau viver semana a semana – o líder socialista do Partido Socialista – e nos dias que correm, nem sempre a frase anterior é necessariamente um pleonasmo – mandou um recadinho aos críticos internos do partido – e nos dias que correm, nem sempre os partidos têm críticos, muito menos internos – para se calarem e deixarem de fazer apartes – e nos dias que correm, fazer apartes é um dos hábitos mais irritantes do comentário político nacional.
Pedro Nuno Santos quer toda a gente alinhada com a oposição dura que ele quer fazer ao governo, especialmente depois de não se opor ao orçamento, que, por acaso, é mais parecido com o que se esperaria de um governo socialista do que de um governo reformista. Mas ao que o Partido Socialista se quer opor mesmo com muita força são aquilo que o PS considera políticas ideológicas do PSD, porque contrariam as políticas ideológicas do PS. Para os socialistas frentistas que querem unir toda a esquerda e que sonham humidamente com uma coligação entre neo-trotskistas, dino-estalinistas, saudo-sovietistas e pós-socialistas, só o reformismo do PSD, o liberalismo da IL e o chalupismo do Chega é que são ideologias. Eles só têm convicções. E as únicas que são boas.
O PSD também se reuniu em congresso, para ouvir o falar o primeiro-ministro e saber que Sebastião Bugalho, que era em Agosto um orgulhoso independente, passou a ser em Outubro um orgulhoso militante do partido de Sá Carneiro. Do político. O poeta não tinha partido. Ou melhor, o Sá-Carneiro poeta já tinha partido quando o Sá Carneiro político teve um partido. E ambos partiram. Mas tergiverso, que era uma palavra cara a ambos os Sá-Carneiro.
O governo tem agora caminho livre para governar mais um ano e meio, com um orçamento feito a meias com o PS e medidas decididas no Parlamento por uma maioria de votos de socialistas e nacionalistas – um cínico diria que sempre que PS e Chega votam juntos a mesma matéria se trata de uma maioria nacional-socialista, mas houve gente há uns cem anos que deu mau nome a esta hifenização. Para os amantes da estabilidade política, são boas notícias. Seja quem for o primeiro-ministro e o partido maioritário na Assembleia da República, o Partido Socialista considera que deve governar sempre, porque só os socialistas é que sabem o que é bom para o país, segundo o conhecido ditado popular “se é bom para o PS, é bom para a messe”.
Mesmo quando os partidos que defendem o desagravo fiscal das empresas são 60% do parlamento, é evidente que não se pode baixar o IRC porque os diversos socialismos, que são 40%, são contra. A aritmética é pouco democrática. Democracia é quando os cães de vanguarda pretoriana do regime dizem que é democracia. (Viu o que fiz nesta frase? Um interessantíssimo jogo de palavras com “cães de guarda”, “vanguarda” e “guarda pretoriana”, e tudo isto num jornal da Guarda. Pronto, acho que para esta semana já não se consegue melhor.)
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia