A Feira Farta é um evento pensado, desenhado e implementado pelo executivo municipal do PSD e que teve a sua primeira edição em 2015. A ideia primária subjacente a tal iniciativa prendia-se em criar uma montra para os produtos agroalimentares da região, valorizando os recursos endógenos do concelho da Guarda.
Nos primeiros anos, aproveitando o pioneirismo local do conceito, este modelo teve um reconhecimento e dinamismo crescentes, mas, como em tudo, a determinada altura torna-se necessário avaliar e reconfigurar o padrão, adequando-o a novas realidades, ao mesmo tempo que se potenciam também novas oportunidades.
Tal como o ciclo de vida dos produtos obedece a cinco fases distintas, nomeadamente “Desenvolvimento”, “Introdução”, “Crescimento”, “Maturidade” e “Declínio”, também a Feira Farta passou e passa por estas etapas. Depois de anos de crescimento, começa agora a entrar no seu declínio. É algo perfeitamente natural, mas, se nada for feito, caminhar-se-á para o seu definhamento progressivo, destruindo assim uma fonte de actividade económica, um momento de agradável socialização e uma das poucas vitrinas do concelho.
Se a Guarda quer cimentar o seu estatuto de capitalidade é fundamental imprimir uma dimensão de âmbito mais nacional, ou no mínimo regional, a esta iniciativa, pois, questionando o exemplo do presente ano, quantos visitantes para além de um raio de 20 ou 30 quilómetros aqui vieram de propósito?
Neste sentido, falta ambição à impulsionadora do evento, vulgo Câmara da Guarda, na promoção integrada e complementar da oferta turística e de serviços que mutuamente se poderia alavancar. Por exemplo, já que a carne jarmelista é um produto único e diferenciado do nosso concelho, porque não criar soluções gastronómicas inovadoras promovidas por chefs de cozinha com notoriedade? E porque não, durante esse evento, utilizar obrigatoriamente cutelaria do Verdugal? E se as bases dos pratos fossem todas elas em verga de Gonçalo? Muitas mais ideias se poderiam aqui acrescentar, no entanto, fica patente a necessidade de reconfiguração do figurino da Feira Farta, transformando-a num pólo de atracção com uma dimensão mais alargada.
Contudo, não deixa de ser caricato e até paradigmático que a ilusão efémera de um acontecimento com aquele grau de mediatismo contraste com a desilusão duradoura dos comerciantes e utilizadores do Mercado Municipal, ali ao lado, que veem e sentem o declínio daquele espaço. Se calhar, no próximo certame, não seria má ideia integrá-lo também nas actividades.
Fica a sugestão.
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos