Começo esta crónica com um apelo. Por favor, pessoas e instituições e poderes sobrenaturais norte-americanos, não criem um acontecimento político todas as semanas, que até Novembro ainda são muitas semanas e não quero transformar esta crónica num “Platypus’ Observatory”. ”Breaking news” a toda a hora já cansa. Tentem parar um bocadinho. Apostar mais em “braking news”, por exemplo.
No entanto, esta semana não há como escapar a um acontecimento inédito no panorama mediático americano: o momento em que uma mulher à beirinha dos sessenta anos foi considerada jovem. Com a desistência de Joe Biden e a provável nomeação de Kamala Harris, a corrida presidencial nos Estados Unidos deixou de ser entre um velho gagá e um badocha gabarolas e passou a ser entre uma mulher namoradeira e um velho tarado.
Um dos candidatos nestas eleições pagou a uma actriz porno para lhe fazer em casa o que mesmo que faz em frente das câmaras e afirmou em público que a filha era tão boa que até ele era capaz de dormir com ela. A mente humana é tão fascinante que vários apoiantes deste candidato vieram a público criticar a outra candidata porque ela teve, cito de memória, «muitos namorados». É como se Cicciolina – também ela uma eleita pelo povo – viesse a público criticar alguém por ser muito badalhoca.
Não é que Kamala Harris fosse a minha primeira escolha (ou sequer a décima), se eu fosse cidadão norte-americano. Mas frente a Donald Trump, qualquer opção seria a primeira. Trump não tem nenhuma ideia coerente e JD Vance tem muitas, péssimas. Nunca tendo sido grande simpatizante do Partido Democrata, confesso que me parece melhor alguém que não tenha como plano destruir o edifício constitucional norte-americano e abandonar a Ucrânia aos desejos insaciáveis do Kremlin.
O sobrenome de Donald Trump é propício a trocadilhos denotativos. Se em inglês, “to trump” significa “sobrepor-se”, o que Trump tenta fazer a toda a gente, e em lituano, o adjectivo “trumpas” significa “curto”, que descreve o seu vocabulário, em português, o seu apelido é apropriadamente semelhante, na fonética, a “trampa”.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia