P – Como surgiu a ideia de criar este “Enterro do Entrudo”?
R – É um processo que vem desde o início de 2006 e surge na sequência de uma parceria pioneira no concelho da Guarda ao nível do movimento associativo, em que criámos uma rede de animação entre três colectividades, o Aquilo Teatro, o Centro Cultural de Famalicão e Raíz Trinta – Associação Juvenil. O “Enterro do Entrudo” é o primeiro projecto dessa rede e surgiu a vontade de construirmos colectivamente e com os recursos próprias de cada colectividade, um espectáculo que tivesse a ver com a raíz e a tradição local, sendo que nos inspirámos no Enterro do Entrudo de Famalicão da Serra.
P – Outros projectos?
R – Quando sairmos deste haverá uma reflexão e avaliação da iniciativa, porque é preciso avaliar para termos as orientações a seguir no futuro. Mas o objectivo é que este projecto, que não surge exclusivamente para criar este Entrudo, desenvolva, de forma integrada e participada, outros projectos ao nível teatral ou outros níveis de formação, porque é preciso reforçar a componente da produção própria das colectividades. E o “Todos à Roda” andará até onde for possível, dependendo de uma série de circunstâncias, mas que o futuro dirá.
P – Como se consegue envolver 300 pessoas neste evento?
R – Consegue-se porque há uma apetência natural e uma vontade e espontaneidade por parte das colectividades que já fazem trabalho cultural, por vezes com pouca visibilidade. No entanto, há uma vontade de criarem e desenvolverem actividades de grande envergadura onde possam colocar os seus saberes à disposição. Tentámos aproveitar os recursos e tradições das colectividades e foi também um incentivo, não estamos a contratar ninguém, estamos a pedir que nos ajudem a construir, conjuntamente, uma manifestação cultural de grande interesse museológico activo.
P – Este é um projecto para continuar no próximo ano ou acaba aqui?
R – A intenção é que possa ser retomado ao nível do figurino, podendo a encenação ser alterada de ano para ano, já que temos a base, que foi o mais difícil de criar. No nosso entender, é possível e desejável que isto possa ser repetido, sendo que, desta vez, fazemos na Guarda e na próxima pode e deve ser feito no meio rural. Pode ser inclusivamente essa a dinâmica, de fazer em espaços distintos de ano para ano.
P – Que apoios têm tido?
R – O apoio financeiro e logístico da Câmara foi fundamental neste aspecto. Também há que referir um conjunto de apoios de empresas da Guarda, nomeadamente no “catering”. Este é um momento único para a cidade e importante para a atracção de pessoas, porque, queiramos ou não, também contribui para economia local. Tivemos igualmente a simpatia e colaboração da comunicação social, que apoia a divulgação.
P – Qual será o futuro do “Todos à Roda”?
R – Se a roda não encalhar e se mantiver, andará concerteza. O “Todos à Roda” é uma expressão popular que quer dizer isso mesmo, todos juntos a confluir no centro da praça, no centro do povo, todos à roda, e portanto reforçarmos-nos todos juntos numa tentativa de criar dinâmicas culturais e sócio-culturais que impliquem várias pessoas. Temos aqui jovens, gente com mais de 80 anos e este reencontro com as pessoas, com várias gerações, é muito importante. Para nós, é mesmo mais importante que o resultado do espectáculo, é uma experiência muito enriquecedora.
P – Pode alargar-se a outras actividades?
R – Há variadíssimas intenções ao nível dos processos de animação comunitária no meio rural, a partir da inclusão de linguagens artísticas contemporâneas e espaços de formação para crianças. Na área do teatro há a possibilidade de criar outros espectáculos mais portáteis, uma vez que há uma cumplicidade nessa área entre as três colectividades.