No fim da passada semana, a América voltou a mostrar que consegue ser ao mesmo tempo incrivelmente espectacular e profundamente desorganizada. Na final da Copa América ou em atentados contra candidatos presidenciais, com atrasos no início do jogo e na chegada de um projéctil, mas com grandes performances ao intervalo de Shakira e dos conspiracionistas.
À entrada do estádio de Miami onde se jogou a final entre Argentina e Colômbia, as autoridades usaram o critério que o governo de Montenegro criou para os novos imigrantes: só entra quem tem bilhete. Os EUA têm cerca de dez milhões de imigrantes indocumentados, mas cinquenta mil colombianos e argentinos à porta de um estádio causaram um caos maior do que os refugiados nos campos em Lampedusa.
Parece que os norte-americanos, quando se trata de organizações que envolvem a América do Sul, são mais eficazes em golpes de Estado do que em torneios de futebol. O golpe contra o governo do Chile em 1973 teve um assassinato bem-sucedido, mas não teve a actuação de uma estrela pop.
Messi e Trump conseguiram mais um título cada. O argentino é agora o jogador mais titulado da história do futebol e Trump, o gajo que mais vezes se safou de cenas maradas na história da política. Por coincidência, no pólo oposto dos títulos e do azar está Harry Kane, que no domingo perdeu a sétima final da sua carreira – e que tem no seu palmarés exactamente o mesmo número de títulos de futebol profissional do que eu, e menos dois do que, por exemplo, Jean-Jacques Missé-Missé.
Sobre a tentativa de atentado contra Donald Trump há mais teorias explicativas do que golos de Messi em finais. Terão sido os democratas, com medo de Trump? Terão sido os republicanos, com medo de Biden? Terá sido Melania, por aborrecimento? Aparentemente, a bala arrancou a Trump parte da orelha. Para um tipo que se gaba de ser o protótipo do “self-made man”, fica a perder para Van Gogh, que fez isso sozinho.
Após o atentado, Trump nomeou J. D. Vance como o seu candidato à vice-presidência. Vance é conhecido por ter escrito um livro sobre a decadência da América, por ser um fervoroso trumpista e por ter dito que Trump poderia ser o Hitler americano. A dupla Trump-Vance pode ser também um piscar de olhos à comunidade hispano-falante dos Estados Unidos. “Avance, Trump y Vance” ou “Trump – Vance vence” poderiam muito bem ser duas frases de campanha para este dueto. Não digo que fossem frases totalmente certeiras, mas se falhassem não seria por mais do que uns centímetros.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia