O Banco de Portugal foi fundado em 19 de novembro de1846, resultando da fusão de dois bancos privados: o Banco de Lisboa e a Companhia Confiança Nacional. Sociedade maioritariamente anónima até à sua nacionalização em 1974, foi o banco emissor do real até 1911; do escudo, até 1988; e, desde então, do euro.
Agência do Banco de Portugal
Inaugurada no dia 2 de novembro de 1892, ficou instalada provisoriamente na antiga Repartição da Fazenda, no edifício do Governo Civil, com um Delegado do Tesouro, coadjuvado por um Tesoureiro pagador.
Na altura, na presença do Governador Civil, João Manuel Martins Manso, Virgínio José Rolland deu posse aos agentes Bernardo Xavier Freire e António Ferreira dos Santos, e ainda a mais quatro empregados, entre eles Alfredo Máximo de Andrade e Francisco da Cunha Pina.
Era uma estrutura funcional complexa e com custos elevados com as transferências de fundos para os correspondentes, ocasionados pelas grandes distâncias e pelas más vias existentes no distrito, que oneravam em muito, os gastos e encargos da Agência, à semelhança do que acontecia no resto do país.
A área de ação da Agência era extensa, montanhoso e de fracas acessibilidades, daí a necessidade de uma boa rede de correspondentes. Iniciou-se com a criação de correspondentes em Celorico da Beira, Gouveia e Pinhel, a que se juntou Seia. Em 1935 havia correspondentes em Almeida, Celorico da Beira, Manteigas, Pinhel, Sabugal, Seia, Trancoso, Vila Nova de Tazem e Vilar Formoso. Em 1976, à data da sua extinção, a rede contava com 24 correspondentes. Em 1980, a Agência, por motivos de segurança, passou a funcionar em regime de “banco de acesso condicionado”. Em 1985 tinha18 empregados. A Agência foi encerrada em 31 de maio de 1993.
Instalações
As primeiras instalações da Agência eram umas meras divisões no edifício do Governo Civil, que desde cedo se mostraram exíguas. É que, embora fosse um edifício de grandes dimensões, albergava a maior parte das repartições públicas da cidade. Daí que se tenha optado pela construção de um edifício de raiz, digno, próprio para as funções que desempenhava. Assim, em setembro de 1897, o Banco de Portugal comprou um terreno ao Clube Egyptaniense, numa das melhores zonas da cidade, então em franca expansão, situado na Rua Marquês de Pombal. Em frente irá nascer, pouco depois, o novo mercado da cidade. A execução do projeto foi entregue ao capitão engenheiro Eduardo Augusto Xavier da Cunha, diretor das Obras Públicas do distrito da Guarda, e para mestre de obras foi escolhido Francisco António Meira, de Coimbra. Já com algum atraso, foi inaugurado em 1901. Era um edifício de um só piso na sua parte fronteira, num terreno de acentuado desnível, com fachada de cantaria, janelas e uma porta com ombreiras em granito ornamentado, adornando toda a fachada e rematado por pequenas janelas e óculos, ao nível da cobertura. Pouco depois, em 1905, o Banco comprou dois terrenos contíguos, dos quais virá a vender uma parte em 1919. Em 1957, no logradouro, resolveu construir duas moradias para instalação dos seus agentes. O edifício foi conhecendo, ao longo dos anos, várias obras de beneficiação, tanto interiores como exteriores. Depois do encerramento da Agência o edifício foi vendido ao Banco Espírito Santo de Lisboa, estando, atualmente, ocupado pelo Novo Banco.
Os protagonistas
João Manuel Martins Manso
Filho de João António Martins Manso e Maria José de Jesus Carvalho. Foi advogado e Governador Civil da Guarda. Era irmão de D. Manuel Martins Manso, Bispo da Guarda.
Virgínio José Rolland
Funcionário superior do Banco de Portugal, deu posse aos Agentes do banco.
Bernardo Xavier Freire
Nasceu humilde, “exposto” à porta da igreja no dia 10 de fevereiro de 1843, foi adotado por gente abastada que sempre o tratou como filho e lhe proporcionou uma educação esmerada e uma vida desafogada.
Formou-se em Direito em Coimbra. Regressado à Guarda, aqui casou com uma senhora prendada e rica, Francelina Amélia Maio, filha do Dr. Manuel d’Almeida Ferreira Maio, Cirurgião de Brigada, que aqui exerceu clínica durante cerca de 50 anos. Foi um homem que viveu com intensidade a vida local e nacional.
Politicamente, esteve sempre ligado ao Partido Progressista, de que foi um dos fundadores e pelo qual foi deputado. Foi um dos fundadores do Real Monte-Pio Egitaniense, do Asilo da Infância Desvalida e do Asilo de Mendicidade, instituições a que deu o concurso do seu auxílio pessoal devido ao lugar de destaque que sempre ocupou e ao auxílio da sua bolsa, sempre aberta a todas as obras humanitárias. Homem de convicções e princípios, que defendia com entusiasmo, faleceu em Coimbra, em 1930, mas quis ser enterrado na Guarda, terra que tanto amou, em jazigo de família, onde já repousava a sua esposa.
António Ferreira dos Santos
Filho de Francisco Ferreira dos Santos e Maria Mendes Paes, nasceu em Guimarães, em 1846. Negociante de ouro e prata, casou na Guarda com Adelaide Augusta Granja. Faleceu nesta cidade.
Vicente Araújo Camisão
Filho de António Luís Araújo Camisão e de Ana da Paz, nasceu em Tavira, em 1830. Foi o primeiro presidente da Comissão Administrativa, política, nomeada pelo Governo em 1881, sucedendo ao provedor cónego Abel Augusto de Sousa. Figura polémica, em 1863, sendo escrivão da Fazenda, da Guarda, aumentou escandalosamente o rendimento coletável das matrizes, tendo gerado grandes descontentamentos. Em Vila Nova de Foz Côa, o povo amotinou-se, reduziu a repartição de Fazenda e a recebedoria do concelho a cinzas. Ele próprio foi alvo de graves vexames. Em 1869 foi-lhe atribuído o foro de fidalgo cavaleiro. Era Delegado do Tesouro quando faleceu, na Guarda, em 1883.
Alfredo Máximo de Andrade
Filho de José Joaquim de Andrade e Maria Augusta dos Reis, nasceu a 8 de outubro de 1850, na Guarda.
Casou com Maria Brígida de Mello Figueiredo, filha do médico Júlio César de Andrade e de Bárbara de Mello.
Francisco da Cunha e Pina
Aspirante da repartição de Fazenda do Distrito da Guarda em 1861, foi também escrivão da Santa Casa da Misericórdia da Guarda.
Eduardo Augusto Xavier da Cunha
Filho de Maximiano Xavier da Cunha, nasceu em Trancoso.
Foi inspetor de Obras Públicas no Ministério do Comércio e Comunicações, coronel graduado de engenharia e diretor de Serviços Fluviais e marítimos. Foi deputado da Nação em 1890.
* Investigador da história local e regional