Mas pensas que é fácil interromper esta vida que me nasce dentro? Mas pensas que o posso fazer sem qualquer sentimento?
Penso que sim e que não e penso que as pessoas são o bom e o mau e são as circunstâncias e as ocasiões e a cultura que têm e as crenças que as enchem.
Podem ser fanáticas e matar outras, podem ser doces para dois filhos e matar um terceiro, podem amar e odiar, podem viver para destruir alguém, podem acelerar numa curva para que outro não entre e quando morre alguém procurarem prioridades bacocas. Tudo isto é do foro das pessoas e dos sentimentos, tudo isto é matéria do amor e do desapontamento, e mistura-se aqui o filho do crime, o filho deficiente e a desilusão do amor e também o tempo difícil em que tudo ocorre e porque não o egoísmo de nos parecer inoportuno. E tudo isto vai no mesmo saco impróprio onde tudo cabe.
Mas pensas que não sei decidir sobre este momento? Que na escolha não penso nele? Penso que sim e penso que não e penso que tens o direito de escolher e tens o dever de o fazer a tempo e tens a obrigação de te cultivar para não ter de fazer esta opção e tens a obrigação de evitar que tudo acabe assim. E tenho sobretudo a certeza que no dia do referendo devemos ir todos votar para que a vergonha anterior não aconteça, e eu vou votar que sim. Não quero saber das mil razões nem das mil causas, prefiro embrenhar-me na da liberdade de escolha – e tenho a certeza que tens o direito de não querer ser mãe – e acreditar que um dia a prevenção evitará que isto tudo se discuta.
Por: Diogo Cabrita