Dita a boa implementação das diversas políticas ou, por outras palavras, a emergência do cerne da diferenciação ideológica, que no topo da hierarquia das diversas formas de administração pública, a performance de quem exerce esses cargos ocorra em consonância com as orientações da respetiva tutela.
As nomeações dos dirigentes e gestores da administração pública existem com esse fim e, sem elas, seria quase impossível assacar responsabilidades políticas, inteiras e inequívocas, a quem nos governa. Mais do que lícitas, serão, portanto, indispensáveis a quem queira assegurar a implementação, rigorosa, das próprias ideias. Contudo, por força da narrativa assente no deslustre dos políticos de esquerda, em particular dos do Partido Socialista (tachistas, oportunistas, ladrões, até), assumi-lo assim, desta forma simples e escorreita, transformou-se num exercício impossível para os políticos de direita. Não admirando, por isso, que para fazer algo tão legítimo como nomear novos atores, estes governantes considerem ter de prosseguir na senda do vitupério e a denegrir, até à náusea, os antecessores para dessa forma justificarem o seu afastamento e a ruptura com as orientações dos seus desempenhos.
Tudo isto acontecerá só por acharem que eles, os de direita, não são, ou assim no-lo querem fazer crer, tachistas, oportunistas e, muito menos, ladrões como imputam aos de esquerda. Logo, ao contrário destes, não é à procura do “tacho”, da “oportunidade” para quem bem quiserem que andam. Não. Em nome da velha narrativa, os novos ministros preferem continuar a tentar convencer-nos de que apenas estão a erradicar a incompetência, a negligência e, em extremo, a desonestidade da administração pública. Ainda assim, apesar de até agora esta prática denotar mais a ausência de propostas políticas concretas e, sobretudo, de caráter, do que algum pingo de visão para o futuro do país, os últimos acontecimentos seriam péssimos, do ponto de vista da dignidade, apenas para os visados, não fosse o caso de desbragadamente continuar a descredibilizar todos os que aceitarem exercer cargos públicos. Acontece que esta forma de estar na política agudiza, e muito, o problema com que, a julgar pela atividade e resultados observados, o atual Governo se terá deparado: é cada vez mais difícil convencer alguém, de boa índole, competência e honorabilidade, a exercer tais cargos. Desde logo porque, observando a forma tão enviesada com que os atuais ministros, em particular a ministra do Trabalho e da Segurança Social, tentam defender as recentes substituições de dirigentes e gestores públicos, dificilmente se encontrará quem, de jeito, conceda expor-se a ser enxovalho desta maneira e à perseguição justiceira que se antevê, porque não há subsídio de risco que compense tamanha exposição a um risco destes.
Embora se desconfie que nunca teremos qualquer resposta, tal como nunca descobriremos se assim agem deliberadamente ou se é só por não pensarem, sequer, no que andam a fazer, não poderemos deixar de perguntar: será que estes “políticos” de circunstância se darão conta dos estragos que fazem ao país e à democracia? Claro que o mais provável é nunca chegarmos a ter qualquer resposta, restando-nos, para já, refletir no facto, evidenciado pela senhora ministra, de que para provedor da Santa Casa da Misericórdias de Lisboa não nomeou um político qualquer, tipo Mota Soares ou Maria Luís Albuquerque, preferindo-lhes alguém que até foi condenado pelo banco central de Moçambique a pena de inibição do exercício de cargos sociais e de funções de gestão em instituições de crédito e sociedades financeiras.
Enxovalhar para exonerar
“Acontece que esta forma de estar na política agudiza, e muito, o problema com que, a julgar pela atividade e resultados observados, o atual Governo se terá deparado: é cada vez mais difícil convencer alguém, de boa índole, competência e honorabilidade, a exercer tais cargos.”