Sabe qualquer iniciado em História da Arte (e remeto aqui para a História da Arte porque a densidade que lhe é inerente é um imperativo para os que se lhe dedicam muito maior que aquele a que seriam obrigados noutras áreas, já que, ao relevar a emoção e a imaginação, está infinitamente além da razão, do cogito, se quisermos), sabe qualquer iniciado, dizia, não apenas que o sexo é sagrado, como, desde sempre, desde os mais remotíssimos tempos, ao longo de milhares e milhares de anos, os nossos antepassados o afirmaram. Sabe, igualmente, que sem o Sagrado (se preferirem, sem a Infinita Inteligência do Universo), nada é possível entender-se.
A fim de cortar cerce qualquer eventual sorriso que nos assimile a um abencerragem, o leitor está convidado a interiorizar o significado e a beleza de uma “vénus”, de uma Deusa-Mãe, ou de um menir pré-históricos. E a exaltante beleza de um destes encontrá-la-à – eloquentemente – escassos quilómetros a seguir a Freixo de Numão na estrada para São João da Pesqueira. Escolha um luminoso dia de Verão; e que fique, portanto e desde já, perfeitamente claro que a História da Arte é para os mais refinados espíritos.
Na tão decantada Grécia, a polis só o era porque tinha uma base religiosa – e sem realçar este aspecto o conhecimento da realidade helénica fica apoucado. O holandês Jan Steen, esse pintor tão popular, n’ A Festa de Baptizado, que poderá admirar em Londres, na Colecção Wallace, pintado em 1664, dá-nos a felicidade de um pai e dos convivas num tão ditoso momento vital. Berthe Morisot, n’ O Berço, pintado em 1872, glorifica a Vida desse modo tão tocante que só uma mulher consegue sentir e transmitir. E há escassas décadas – tenha o leitor bem presente que vimos dos primórdios e que as primeiras manifestações artísticas datarão de 38.000 a.C. –, há escassas décadas, dizia, essa mundana – muito verosimilmente lésbica – que foi Tamara de Lempicka, ao pintar a opulência, a moda e o requinte mundanos, o que, no fundo, nos diz é que, na melhor das hipóteses, tudo isso é “fogo de vista”, porque, na verdade, a única realidade com que o ser humano se defronta é com a nostalgia do Absoluto. Tamara de Lempicka é tão soberba – e original – porque o que diz, di-lo sempre a contrario. Vd., v.g., o Retrato de Madame Boucard (1931).
Foi com o cogito cartesiano, a que se seguiram as “Luzes”, o Positivismo, esse miserando “milenarismo” que foi o Marxismo e essa treta da “teoria” de Freud, que chegámos ao “sem Rei nem Roque” em que nos encontramos. Obviamente que com o contributo de muito altos espíritos, como numerosos professores universitários, prestigiados fautores de opinião, uma Imprensa “modernaça” e tutti quanti… Sem rebuços: o leitor corra a comprar Allegro ma non troppo, do historiador Carlo M. Cipolla, em que n’ As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, a partir da pág. 47, o génio diz que os estúpidos tanto se encontram entre os contínuos, os empregados, os estudantes, como os professores universitários, pertençam estes a uma universidade grande ou pequena, a “um instituto famoso ou um outro completamente desconhecido” (pág. 53). Entre os laureados com o Prémio Nobel uma fracção é constituída por estúpidos, acrescenta ainda.
A inteligência deixou de ser a Natureza – melhor: a Infinita Inteligência do Universo – e a veneração por ela, para passar a ser a real gana ou o arbítrio de cada um. Louçã, Odete Santos, Daniel Sampaio – e etc, etc, etc – são, bem entendido, pessoas muito estimáveis. E têm por certo opinião, quiçá erudição. Ainda não concluíram é que cada um só terá aquilo em que verdadeiramente acreditar – e que o interior de Portugal está desertificado…
O problema da Vida é um problema de responsabilidade pessoal e inalienável, de solidariedade e de atenção à Demografia, de incoercível disposição para vencer dificuldades e não para lamúrias, de certeza prévia na Vitória, em suma. Portanto, de que só a Fé é critério e de que a razão é um sub-produto.
Se os “democratas” da Esquerda (nunca o serão, claro; a esquerda nem sequer tem aptidão para se fundamentar) tivessem ganho o 1º referendo, estavam calados. Mutatis mutandis são tão democratas como os republicanos de 1910 – e mais nada.
A essa barbárie defensora da Morte é preciso proclamar que a ela – e só a ela –, por essas e outras razões, se deve que a Pátria esteja “metida no gosto da cobiça e na rudeza de uma austera, apagada e vil tristeza”. Ainda não se passou daqui, porque a canela da Índia ou o aborto têm, como denominador comum, o facto de o Sagrado se ter mandado às urtigas. E, para os fabricantes de preservativos e similares, que melhor que o sexo descartável?
Ah! E essa sempre tão espantosa figura que é o senhor Ministro da Saúde fica a saber que não é com o meu dinheiro que se sustentam clínicas para abortar. Mais. Os egitanienses que cerrem fileiras pela maternidade. Era o que faltava, que ficássemos à espera de benesses.
A Igreja, pela palavra e persuasão – as únicas armas que lhe são identificadas – tem que bramar contra esta perversão.
Guarda, 27-XII-06
Por: J. A. Alves Ambrósio