Arquivo

A encruzilhada da gestão socialista na Câmara da Guarda

O desafio em torno do que é a Guarda, melhor o que foi no passado não muito longínquo? – uma vez que a análise não se traduz numa perspectiva de retrospectiva histórica, considero que a reflexão do presente projectada no futuro a médio ou longo prazo traduzirá uma vontade de mudança tão breve, como bem necessária.

Se olharmos para a nossa cidade na perspectiva do betão, vemos, infelizmente, a contínua explosão de urbanizações de forma desordenada, sem planificação assente nos pressupostos necessários para uma verdadeira qualidade de vida, tão almejada pelas gentes desta cidade.

Como se compreende que espaços urbanos edificados nestes últimos anos não acolham espaços verdes, dignos desse nome; bem como espaços para equipamentos sociais, desde jardins de infância ou outros espaços escolares? Os arruamentos que atravessam muitas das urbanizações não se coadunam com a volumetria envolvente, nomeadamente com os espaços para estacionamento.

Porém, o maior escândalo da nossa cidade é as obras do POLIS na freguesia de São Miguel que delinearam espaços de estacionamento que provavelmente no tempo ficarão desertos. No entanto, a requalificação de toda a zona envolvente do rio Diz era necessária e trará certamente outro olhar para a nossa cidade, apesar de muito cepticismo.

A abertura do Teatro Municipal da Guarda (TMG) foi sem dúvida um momento histórico no investimento público para a nossa cidade, no entanto, a sua edificação não trouxe ainda alterações profundas no panorama do “consumo cultural” dos naturais e residentes da Guarda. O outro investimento público importante e contínuo, que a esmagadora maioria dos Guardenses não vê, reflecte-se na comparticipação dos espectáculos com dinheiro de todos nós, através das transferências da autarquia para a empresa municipal – CulturGuarda, (por sinal fui contra a sua criação). A gestão da causa pública não carece de artificialismos de gestão.

Por várias vezes afirmei e mais uma vez reafirmo que quando há bons funcionários públicos, neste caso na Câmara Municipal da Guarda, não temos que inventar novos espaços de ordenamento jurídico para potenciar a sua requisição. Era bom que os Guardenses procurassem mais o “consumo cultural”, não vagueassem tanto pelo consumismo desenfreado nos grandes espaços comerciais em outras cidades.

Os Guardenses andam muito ansiosos pelo aparecimento de um grande centro comercial, entretanto, viajam até às cidades vizinhas, Covilhã, Viseu, Coimbra e Aveiro, mais ainda após a conclusão da A25, já chegaram a dizer-me que é um saltinho, não custa nada, então façam as contas. Mais grave, têm já o exemplo da cidade vizinha, que muitos de nós vêem como rival, como o supra-sumo do desenvolvimento no comércio.

Porém muitos comerciantes, até já sentem os reflexos do aparecimento da grande estrutura comercial na cidade, meus amigos, facilmente rendem-se à evidência? – As consequências de mais um novo “shopping”, neste caso na nossa cidade, sendo o primeiro, será o elixir para os nossos vários e graves problemas. Enganam-se! Aumentam os nossos problemas, desde logo, o comércio tradicional que absorve muita mão-de-obra directa e indirecta ressentir-se-á imediatamente com a concorrência desenfreada. Mas o consumidor dirá que o mais importante é haver oferta na diversidade e o sucesso das marcas.

Pois bem, caro conterrâneo este problema parece que já era, existem dois projectos de centro comercial: um na Avenida dos Bombeiros, pelos visto a inaugurar na Primavera de 2008 e o outro no já polémico espaço Mercado Municipal/Centro Coordenador de Transportes que aguarda por melhores dias.

Outro problema: no actual mandato cessou funções um director do Departamento de Planeamento e Urbanismo (DPU) do município da Guarda, por causa de uma suposta «interferência política» na substituição de uma técnica superior responsável pelas vistorias. Esta informação colhi-a em notícia na comunicação social local. Muitos questionarão: «por que raio se vai lembrar disto agora, se já foi há tanto tempo?». Mas há tempo que é necessário para não apagar a memória, pois também a televisão pública quer apagar a memória, neste caso de actores do fascismo. É importante reflectir porque razão a autarquia terá que pagar um largos milhares de euros por erros passados na gestão da autarquia, por sinal do mesmo partido político. Será lícito certos interesses na nossa cidade sobreporem-se ao interesse público?

As dúvidas persistem no tempo, o actual presidente referiu neste jornal desconhecer «quaisquer “lobby’s”» da construção civil na Guarda e menos as suas alegadas pressões: «Os agentes imobiliários não estão a fazer aquilo que querem na cidade».

Pois bem, faço votos que a substância das palavras se traduzam na necessária mudança tão breve como necessária, para a nossa cidade para dar o salto qualitativo, não quantitativo, na construção, carece de uma planificação assente na discussão com todos os agentes, sobretudo na auscultação dos seus munícipes.

A discussão pública do PDM, tão rápida quanto necessária para estancar o esvaziamento do meio rural, bem como para por ponto final na desordem urbanística da nossa cidade.

Algumas âncoras foram lançadas, mais uma vez com o investimento público. Urge maior investimento também dos empresários e eficiência na relação entre os diversos interlocutores.

O grande capital da nossa cidade e concelho é o humano. Se não, olhem em várias direcções, a resposta é clara. Há gente da Guarda com garra na direcção de muitos caminhos. Porque razão não encontramos o nosso caminho nesta cidade.

A resposta é simples, mas complexa, necessita o contributo de cada um de nós. Sobretudo assente na participação activa e crítica na construção dos pilares da criação, solidariedade e responsabilidade em cada um, algo que falta nesta cidade.

Que 2007 seja um ano de viragem para as gentes da Guarda.

Por: Honorato Robalo

Deputado da Assembleia Municipal da Guarda, eleito pela CDU

Sobre o autor

Leave a Reply