P – Como é que se sente por ter sido o primeiro atleta português a conquistar uma medalha num Campeonato Europeu de Karate Shotokan?
R – Sinto-me muito feliz. É como que o reconhecimento e o prémio por tantos meses de treino. É preciso treinar muito para alcançar estes resultados, não basta duas ou três vezes por semana que é o normal. Tem que ser todos os dias e não só com o nosso instrutor e no nosso espaço. Temos que visitar muitos outros sítios e participar em estágios e competições.
P – Quantas horas treina por dia?
R – Não são assim tantas como muitas pessoas pensam. Não vou dizer que treino duas horas de manhã e outras de tarde porque não o faço. Agora, se calhar era indicado eu fazê-lo e talvez tivesse ganho em vez de ter ficado em segundo. Não o faço porque não tenho hipóteses disso, até porque não sou profissional. Deste modo, treino cerca de duas horas todos os dias.
P – A próxima edição do Europeu realiza-se no Porto em 2007. Era a altura ideal para chegar ao ouro que este ano ficou a escassas décimas?
R – Era, até porque para além de ser cá em Portugal, a idade penso que seja a mais indicada, entre os 25-26-27 anos, que, em minha opinião, é quando atingimos o auge. Por outro lado, como venho de um segundo lugar, tenho aspirações de poder chegar ao ouro.
P – Alcançou a medalha de prata na categoria máxima de kata sénior masculino. Em que consiste o kata?
R – Nas competições, existe o kata e o kumité, que é o combate entre dois. As katas é mais ou menos como as provas da ginástica em que há os árbitros e as pessoas fazem as provas e são avaliadas com notas. Não há contacto. O kata é uma prova individual. Nas eliminatórias, entram os dois participantes ao mesmo tempo, fazem os dois as 29 técnicas com saltos, pontapés e socos. É tipo um combate imaginário, mas já se começa a deixar de dizer dessa forma porque não é tão imaginário assim.
P – Anteriormente já tinha chegado ao ouro no Mundial de Karate Shotokan. Qual é que lhe deu mais sabor conquistar?
R – São provas diferentes. Pode dizer-se que esta competição onde ganhei a medalha de prata tem um âmbito mais alargado, daí poder dizer que foi mais importante.
P – É difícil ser karateca no interior do país? Gostaria de ter mais apoios?
R – Eu do que vejo dos meus colegas que também estão nas selecções, e há muita gente do Porto e de Lisboa, não acho que tenham melhores condições que nós. Aliás, eu, se calhar, até tenho mais reconhecimento por parte dos jornais, das rádios e das pessoas porque há aqui menos praticantes de karate. Quanto às condições, nós também não precisamos de grandes ginásios. Não posso pensar que por estar no interior não tenho apoios.
P – Esta medalha de prata é mais uma a juntar a uma longa e extensa lista de troféus. Ainda há espaço e vontade para continuar a conquistar prémios?
R – Claro que sim. Ainda para mais porque já desde 2002 que não conseguia nenhuma medalha a nível internacional, num Europeu ou num Mundial. Não é que sejam muitos anos, mas as pessoas já começavam a ver o Rui, e a minha irmã Carla, como o “já foi”, “já está”, “já não estão em cima”. Como agora houve o apuramento para o Campeonato Nacional, anterior a este Europeu, e eu fiquei em segundo, numa competição que eu já ganhava há sete anos, então as pessoas diziam que já nem aquele o Rui ganha… É como que o relançar da minha carreira.
P – Quais são as suas ambições para o futuro?
R – Esta época desportiva começou em Setembro e já houve o Campeonato da Liga que eu devia ter ganho, mas fiquei em segundo. Houve este Europeu e agora vêm os da Federação, o Regional e o Nacional, já no início de 2007. O Regional quero ganhar porque já há nove anos que o faço e porque dá acesso ao Nacional. No Nacional, já há uns aninhos que me têm acontecido alguns imprevistos e quero voltar a ganhar essa competição.