Escrever sobre o ridículo é fácil porque tem abundância. O ridículo podem ser pavimentos destruídos por raízes de árvores, que plantaram sem pensar que são vivas, e dinâmicas, e iriam crescer. O ridículo podia ser uma surpresa de cair o queixo como aconteceu em 1998, nas Honduras, quando o furacão Mitch mudou o curso do rio Choluteca e deixou a “ponte do Sol nascente” incólume, mas sem água nenhuma por baixo. Era uma obra especial, com intervenção de engenharia japonesa, projetada contra furacões. Funcionou, mas a natureza pregou uma partida extraordinária à política. O curso do rio mudou para uns metros ao lado.
Divertida foi a existência de um viaduto sem acessos em Monção. Construído em 1995 pela Estradas de Portugal, no Lugar da Pousa, o viaduto para secar roupa, por onde nunca passou ninguém, seria demolido em 2010. Foram mais de 150 mil euros entre construir e destruir e fazer esquecer.
Mas uma diabrura nunca vem só e nesta matéria de construir e deixar por fazer, temos o IP8, que ligaria Vila Verde de Ficalho, já na fronteira com Espanha, ao litoral, em Sines. Lá estão pedaços de viaduto, inícios de pontes, começos de túneis e vedações. A via é uma longa estrutura de pasto que percorre dezenas de quilómetros e enterrou milhões de euros. Começa em 2007 com o incontornável José Sócrates e apaga-se no tempo da “troika” sob gestão de Pedro Passos Coelho. Era o ano de 2012 e desde então procrastina a ideia e lá estão as terras expropriadas, e os betões plantados, enquanto as ovelhas pastam. O Portugal do PS e do PSD é uma ode marítima de projetos, sonhos e desperdícios que nós, os tolos, pagamos sem os despedir! Falta logística, estruturação e sustentabilidade financeira. Não falta sonho nem peneiras.
O ridículo
“O ridículo podem ser pavimentos destruídos por raízes de árvores, que plantaram sem pensar que são vivas, e dinâmicas, e iriam crescer.”