O projecto do Teatro Municipal da Guarda (TMG) foi novamente seleccionado para um dos mais prestigiados galardões de arquitectura europeus. Mas Carlos Veloso, o seu autor, não tem grandes expectativas quanto ao Prémio Mies van der Rohe. «Já passei à segunda fase, mas devo ficar por aí. Contudo, ser seleccionado já é muito bom», contenta-se, realçando o facto do complexo cultural da cidade ter sido nomeado por um conjunto de especialistas independentes.
«Neste caso não é, ou pelo menos não parece, um júri caseiro. Neste sentido, a escolha da obra permite obter uma maior projecção da arquitectura que se faz em Portugal pelo facto de ser reconhecida num campo profissional internacional», acrescenta o arquitecto da Guarda, radicado no Porto. O TMG foi uma das 30 obras finalistas dos Prémios FAD’2006, concorrendo com as mediáticas propostas de Jean Nouvel, Richard Rogers ou Souto Moura, mas não ganhou. Foi inaugurado em Abril de 2005 e é constituído por dois cubos gigantes. Num deles está localizado o grande auditório, com capacidade para mais de 600 pessoas, e também o pequeno auditório, com 164 lugares. O outro bloco acolhe o café-concerto, com capacidade para 100 pessoas, uma galeria de arte e um estacionamento subterrâneo de três pisos. A ideia dos dois cubos e a sua relação com a envolvente parece ter conquistado adeptos no mundo da arquitectura. No entanto, Carlos Veloso espera que estas nomeações sirvam, «pelo menos, para mostrar aos políticos que é importante fazer as coisas bem», apelando a que realizem mais iniciativas onde se possa «promover a qualidade, a nossa auto-estima e a nossa melhor natureza».
O arquitecto lamenta que os decisores não tenham «a capacidade de perceber a importância destas nomeações» e de promover mais concursos onde a qualidade se sobreponha aos critérios económicos. «Isto não quer dizer que só se faz boa arquitectura com muito dinheiro, às vezes é ao contrário. O processo do TMG, desde o concurso lançado em 1998 até à conclusão em obra em 2005, é exemplar nesse sentido, por ter premiado uma solução que melhor cumpriu os objectivos previamente definidos», garante, perguntando por outros edifícios «de alguma relevância e qualidade arquitectónica» lançados pela autarquia. «Infelizmente não existem», responde, classificando de «aleatória» a escolha de concorrentes para a participação em concursos lançados recentemente pela autarquia da Guarda. «Muitas vezes aponta-se uma equipa projectista, porque já fez centenas de projectos daquela área ou especificidade, o que, na prática, não quer dizer que faça a melhor arquitectura», refere. Exemplo disso são, na sua opinião, grande parte dos Centros de Saúde, que considera de «fraca qualidade arquitectónica», apesar de serem edifícios públicos. O jovem arquitecto entende ser necessário «educar culturalmente os responsáveis por estas iniciativas», nem que para isso seja necessário «mandá-los para Espanha». Provocação à parte, Carlos Veloso acha que, com esta atitude, se está a «lapidar o nosso património topográfico específico por loteamentos de fraquíssima qualidade».
Luis Martins