O futuro ex-primeiro-ministro foi, em tempos, ministro de outro primeiro-ministro. O comportamento desse primeiro-ministro causou desconfianças. O primeiro-ministro de hoje nunca viu nada de mal no primeiro-ministro de então. Quando houve serrabulho, o primeiro-ministro actual mandou o primeiro-ministro antigo ao pós-modernismo procurar as verdades.
O primeiro-ministro disse que tinha um melhor amigo. O melhor amigo meteu-se em alhadas. O primeiro-ministro diz que afinal não devia ter amigos.
O primeiro-ministro tinha um ministro. Houve batatada. O primeiro-ministro não se importou, e convidou o ministro para ser o chefe da banda na discussão do orçamento. Esse ministro foi apanhado em galambices.
O primeiro-ministro tinha um chefe de gabinete. Esse chefe tinha muitas notas e muito vinho no tal gabinete. Esse chefe de gabinete foi descoberto em moscambilhas.
O primeiro-ministro já tinha tido outros ministros, uns com mania das velocidades, outros com gosto por aviões, e outros, mais distraídos, que não sabem nada sobre armamento que aparece e desaparece.
O primeiro-ministro não sabe de nada, não percebe nada do que se passa à sua volta. Se não sabe como trabalha o chefe de gabinete, é normal que não saiba como vive o povo do país.
Com todos estes saltimbancos em tropelias à sua volta, o primeiro-ministro que não sabe nem vê pede demissão por um parágrafo que o indigna. A palavra da Procuradoria incomoda-o. A falta de palavra do seu séquito tranquiliza-o.
O primeiro-ministro pede demissão. O presidente aceita, mas deixa-o governar mais seis meses. Perante tudo isto, o primeiro-ministro diz que marcar novas eleições é falta de bom senso e uma irresponsabilidade. Se o país precisasse realmente de bom senso e responsabilidade, os sete parágrafos anteriores deixam uma imagem clara de alguns lugares onde não se encontrariam.
Agora que os trapezistas se espatifaram, entrem os palhaços, que o circo vai continuar.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia