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Bullying em inglês, acoso em espanhol. O que é em português?

Ou da necessidade de sensibilização para a violência psicológica das crianças na escola

Há um tipo de violência entre crianças que não sabemos exactamente como chamar. Assim, tal como tudo o que não tem nome, é como se não existisse. Daí que não estejamos alertados para a possibilidade da sua manifestação, não se lhe reconhecendo facilmente os sintomas quando se manifesta.

Imaginem que um filho vosso passa meses a fio doente, a faltar à escola. Enxaquecas fortíssimas para as quais nem mil miligramas de todo o tipo de comprimidos servem de remédio. Tão frequentes e renitentes ao tratamento se tornam as dores que é submetido a uma TAC à cabeça, sem que esta, contudo, dê resposta aos sintomas. Alternando com as dores de cabeça que se prolongam dias a fio, aparecem crises de asma, dores de estômago, diarreias. Continuamente a caminho das urgências do hospital, geralmente cai doente aos domingos, conseguindo levá-lo para a escola no meio da semana, ou nem isso, para ficar doente novamente no fim de semana seguinte e, circularmente, permanecer em casa a seguir. Culmina este ciclo o aparecimento de pequenas bolhas de sangue nas costas das mãos. A este clímax, com que o dermatologista do serviço de urgências não se compadece, dizendo não haver nenhuma doença de pele com aqueles sintomas, segue-se, finalmente, já em casa, a muito penosa confissão de que todas as doenças até então foram fabricações e a revelação de que a criança pretendia simplesmente não ir à escola: havia um grupo de crianças que a humilhavam e acossavam das mais variadas maneiras todos os dias.

Este é apenas um caso com um tipo possível de sintomas. As consequências são, porém, sempre avassaladoras. A vítima não sente força para se defender. O que de negativo é dito a vítima vai assumindo como verdade que sedimenta fundo no seu ego. A criança sente a exclusão explícita do grupo e a sua auto-confiança fica destruída. O medo de retaliações por parte dos agressores impede que peça ajuda. A sensação de impotência e o instinto de sobrevivência fazem-na pensar que a única saída é evitar o contacto com quem a aniquila e arranjar, portanto, subterfúgios para não ir à escola. A luta que tem de travar com os pais para levar a sua recusa por diante, sem lhes contar a verdade, retira-lhe ainda mais o ânimo. Vem a infelicidade total, a depressão. O suicídio parece ser, por vezes, o único caminho de libertação.

O problema é conhecido, de longa data, nas escolas britânicas como bullying e há uma consciencialização generalizada, entre professores e alunos, desde os primeiros anos de escolaridade, relativamente aos seus sinais (por parte de quem violenta) e sintomas (por parte das vítimas), com estratégias estabelecidas de sensibilização para a sua prevenção e detecção.

Em Espanha dão-lhe o nome de acoso e sobre ele acaba de sair o estudo “Cisneros X: Violencia y Acoso Escolar en España”, a cuja execução não foi certamente alheio o recente suicídio de três jovens. Sendo da responsabilidade do Instituto de Innovación Educativa y Desarrollo Directivo e do “Mobbing Research”, revela que uma em cada quatro crianças sofre do que talvez paralelamente em português possamos chamar acossamento e violência escolar.

Em Portugal o problema foi abordado recentemente nas notícias, não em termos de violência psicológica especificamente em crianças, mas com os primeiros números sobre violência física e psicológica infligida a professores e alunos. Aliás, a notícia desenvolvia-se particularmente no que respeita a professores, problema de igual gravidade e tão negligenciado como este.

A inespecificidade na abordagem portuguesa revela que ainda não foi dada a atenção devida ao problema. É que a violência psicológica inclui muitas e variadas formas e tanto factores ponderáveis como soluções são distintos quando se trata de adultos ou de crianças.

Para caracterizar este tipo de violência encontramos palavras como acossar, molestar, insultar, amesquinhar, chamar nomes, enfim, humilhar, implicando sempre uma tentativa de denegrir e inferiorizar directamente uma criança com a consequente sobrevalorização da outra que o faz. Trata-se de um conflito em que há um jogo agressivo de poder que conduz ao estabelecimento de uma relação de superioridade forçada por parte de uma criança sobre outra.

Mas, se o problema para a vítima é destroçador, para quem o provoca pode ser o início de um caminho de violência criminal, dado que o comportamento do abusador, se não for tratado, pode adquirir proporções de uma cada vez maior gravidade.

Para além do trabalho de prevenção entre professores, pais e alunos, há que estabelecer mecanismos para fazer os intervenientes compreender os seus actos e o padrão comportamental em que se integram.

Os actos existem. Que da consciencialização da sua existência nasça uma palavra para sua fácil identificação. Saberemos, então, que o problema já foi reconhecido entre nós.

Por: Luísa Queiroz de Campos

Comentários dos nossos leitores
delaine matos didi100%gdc@hotmail.com
Comentário:
gostei porque mostra que o brasil tem jeito
 
patty patty@hotmail.com
Comentário:
muito bom!!!!!!!!! vai ser meu trabalho de portugues!
 
ANA CLAUDIA CLAUDIA.CACAU2011@HOTMAIL.COM
Comentário:
INTERESSANTE, PRECISA SER REPASSADO AS ESCOLAS, PRINCIPALMENTE NO BRASIL
 
gustavo guto_costa@hotmail.com
Comentário:
muito bom!!!! deviam postar nas escolas do brasil e do mundo!!!
 
Emanuel A Sales eantoniosales@bol.com.br
Comentário:
Ola eu gostaria de saber se existe bullying de alunos para com professores tambem.abraços
 
Onivaldo Ramos Leão capri.vita@gmail.com
Comentário:
Parece tratar-se algo recente, portanto teríamos de importar uma palavra inglesa para descrever o fenômeno. Quando ainda na escola fundamental se dizia que estes fatos se resumiam numa só palavra: humilhação (por atos físicos e/ou psiquícos). A importação de termo estrangeira introduz uma estática na comunicação entre as partes envolvidas no seu estudo, notadamente quando se dialoga com quem não tem desembaraço na língua inglesa.
 

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