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Floresta da Guarda sofreu redução de 36 por cento em 10 anos

Presidente da Comissão Florestal do Nerga garante que a área ardida não tem sido convenientemente reposta

«Tem que se premiar quem protege a floresta e não o contrário». A afirmação é de Mário Ferreira da Silva, presidente da Comissão Florestal do Nerga, na semana em que o “Diário de Notícias” mencionou o estudo publicado no livro “Portugal: o vermelho e o negro”, onde é dito que 36 por cento da área florestal do distrito da Guarda ardeu nos últimos 10 anos. Também o distrito de Castelo Branco, com 42 por cento de taxa de regressão florestal, ficou muito acima da média nacional de 21 por cento.

O livro da autoria de Pedro Almeida Vieira, engenheiro biofísico, que será lançado brevemente, indica que um quinto da floresta portuguesa desapareceu em 10 anos. É que, se em 1995 os povoamentos florestais ocupavam 3,2 milhões de hectares do território, os violentos incêndios dos últimos anos alteraram drasticamente este panorama. Em 2005 estima-se que havia apenas 2,5 milhões de hectares, o que representa uma diminuição de 21 por cento a nível nacional, mas que nalguns distritos, como a Guarda e Castelo Branco, assume proporções ainda maiores. Faro, com 55 por cento, é de longe o distrito com mais área ardida, logo seguido de Castelo Branco, com 42 por cento, e da Guarda e Porto, ambos com 36 por cento, isto segundo os cálculos feitos com base nos dados da Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF). «Os números são preocupantes, mas não são novidade» para o presidente da Comissão Florestal do Nerga – Associação Empresarial da Região da Guarda. Mário Ferreira da Silva recorda que têm sido feitas várias campanhas de sensibilização junto das populações, com «especial incidência» nos mais novos e nas escolas. A lógica parece simples: «Os incêndios não se devem combater, mas sim prevenir-se», realça.

O facto da Guarda ser um distritos com uma média superior à nacional está relacionado com os «grandes incêndios» que nos últimos anos afectaram o Parque Natural da Serra da Estrela e os concelhos de Gouveia e Seia, entre outros. Em relação a esta época, aquele responsável acredita e deseja que «poderá ser melhor» que as anteriores, até porque a «articulação entre bombeiros, sapadores, GNR e Governo Civil está a funcionar», considera. Mário Ferreira da Silva mostra-se também preocupado por, em seu entender, não ter sido feita a «devida reposição» da área ardida. «Se calhar não ardeu tanto quanto deveria ter ardido», ironiza, numa crítica ao facto do distrito não ter sido incluído no Plano de Reflorestação Nacional. «Existe uma cultura de premiar quem deixa arder e não os que trabalham para que não haja incêndios», lamenta, dizendo que assim as associações de produtores associadas do Nerga «não estão motivadas para continuarem a investir na protecção da floresta». Aliás, haverá concelhos que estão a ser descriminados «negativamente por não terem tido incêndios», garante o presidente da Comissão Florestal.

É o caso de Penamacor, no distrito de Castelo Branco, cuja candidatura para um projecto de vídeo-vigilância da extensa floresta do concelho, que rondava os 200 mil euros, foi recentemente rejeitada pelo Fundo Florestal Permanente. O projecto previa a instalação de uma estrutura de Internet de banda larga em todo o concelho, através de um sistema “wireless”, que permitia a instalação de “webcams” em vários pontos fixos e em diversos meios de vigilância móvel. Com isso, os responsáveis teriam imagens de ocorrências em tempo real, através da Internet. A justificação para a reprovação da candidatura terá sido a de que Penamacor «não tem tido incêndios, logo não faz sentido este projecto». Ora, na óptica da autarquia e da Comissão Florestal do Nerga, esta é precisamente a razão porque o projecto deveria ser apoiado, defende Mário Ferreira da Silva. Neste sentido, o responsável considera que «os padrões e os critérios para a atribuição de subsídios deviam ser alterados».

Ricardo Cordeiro

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