Um grupo de meliantes, tratados aprioristicamente pela polícia como bons selvagens, anda pelas cidades deste mundo – e de outros, provavelmente – a esvaziar pneus aos carros de outras pessoas, que por azar do destino não tenham uma garagem para os aparcar (aos carros, não aos meliantes). Espero a continuação desta campanha de esvaziamento de pneus, especialmente junto dos grandes poluidores, como navios e aviões. Acabem as greves, esvazie-se a aviação. Se é para salvar o planeta, não se fiquem só por viaturas de pessoas anónimas que acordam com os planos furados (perdão, esvaziados).
Num comunicado que se tornou uma leitura muito popular, em aberta concorrência com a capa do “Correio da Manhã” e a bula do Cialis, os vingadores escreveram uma frase que ficará para a história das frases, “Não és tu, é o teu carro”. Como tal, esta frase poderá ser doravante reutilizada e readaptada em inúmeras e distintas circunstâncias, com incríveis níveis de sucesso e boa comunicação:
No Parlamento, chamando outro ministro a comissões de inquérito, “Não és tu, é a tua mentira”.
Numa sala de aula, tentando explicar a mesma coisa pela décima vez, “Não és tu, é a tua estupidez”.
Num casamento, evitando sair do sofá num domingo à tarde, “Não és tu, é a tua mãe”.
Num namoro, traindo com um amigo, “Não és tu, é o teu pirilau”.
Num café, tentando seduzir uma mulher casada na mesa do lado, “Não és tu, é o teu marido”.
Numa loja, recusando uma venda, “Não és tu, é teu cartão de crédito”.
Numa bulha, enfiando a cabeça de outro num chafariz, “Não és tu, é a tua mania”.
Na rua, sovando alguém que esvaziava um pneu de um carro, “Não és tu, é o teu cérebro (tão vazio como aquele pneu)”.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia